sexta-feira, 28 de junho de 2013

A DESPOLITIZAÇÃO DA JUVENTUDE

laravazz.wordpress

Marcos Monteiro*


Tornou-se um lugar comum se defrontar com análises que falam do conformismo e despolitização da juventude. Normalmente invocamos a época de setenta, em que a juventude enfrenta corajosamente a ditadura, através de protestos, passeatas e até mesmo através da guerrilha, urbana ou rural, como lugar de contraste e comparação.

Nenhuma dúvida sobre a maioria das ações realizadas e sobre o número de jovens da época que tinham uma visão crítica da sociedade e um empenho em ações coletivas e políticas visando construir um mundo melhor. Muitos desses sonhavam com um mundo socialista e se moviam em torno das experiências de sociedade ditas socialistas, modo de governo chamado posteriormente de “socialismo real”, para acentuar as suas contradições.

Os equívocos dessas considerações são a de considerar que esse rebuliço representava a maioria da população jovem do país e de não perceber o grande contingente de jovens nos dias de hoje que gastam o seu tempo em diversos tipos de lutas políticas e sociais em prol de um mundo melhor. Também esse grupo atual não é uma maioria, mas uma minoria crítica e heterogênea, estabelecendo lutas em frentes diferentes, por diferentes direitos e contra diferentes preconceitos, na área de etnia, gênero e sexualidade, por exemplo.

As recentes manifestações de rua, são a continuidade de outras semelhantes, como “A revolta do Buzu” de Salvador, em 2003, e a confluência de diversos grupos organizados em torno de lutas sociais ou políticas diversificadas. Os jovens na rua são também resultantes dessas inúmeras experiências de participação política e social de natureza voluntária, mas organizada.

Nos anos setenta, a grande maioria da população e a maioria da juventude, consequentemente, estava alheia às grandes questões que se debatiam no Brasil e no mundo, além do fato da ditadura ter proporcionado um tal de “milagre econômico” que calava a boca de críticos e aquietava o estômago de muitos. Também nesse período o Brasil do futebol conquista um tri-campeonato que cria a euforia natural para se explorar uma espécie de nacionalismo ingênuo e muito conveniente.

Portanto, a despolitização da juventude não é novidade histórica, mas condição de um processo político e econômico que precisa despolitizar para se manter. O sentimento de que política é alguma coisa suja que acontece em um lugar do qual não fazemos parte é a conseqüência da apropriação do quefazer político por um grupo de pessoas que não estão realmente interessadas na coisa pública. O cidadão não percebe o seu poder político porque o seu exercício cotidiano não parece exercício de poder. Consciência e participação política não são elementos mágicos, mas resultados de um processo de aprendizado que depende de decisões concretas.

Nessa perspectiva, não é de se admirar a despolitização, o que nos pode impressionar é admitir que alguma consciência política e alguma participação popular sempre acontece, apesar dos pesares, o que garante que o poder capitalista não é nem homogêneo nem onipotente.

O movimento de jovens nas ruas nos lembram que politização é possível e que politicidade é direito. A mobilização pode dar visibilidade a várias lutas que acontecem em espaços menores e a adesão crescente nos acende esperanças de crescentes aprendizados. No processo de educação, as lutas e os movimentos são escolas de politização que aceleram processos e que garantem conhecimentos que não estão disponíveis em outros lugares.

Houve mais jovens nas ruas lutando por direito de locomoção nas grandes e médias cidades, do que torcedores nos estádios lotados da Copa das Confederações. Lembrando que, como bom brasileiros, os manifestantes são bons torcedores; somente esse dado já nos dá combustível suficiente para renovar otimismos.

Feira de Santana, 28 de junho de 2013.

*Marcos Monteiro é assessor de pesquisa do CEPESC. Mestre em Filosofia, faz parte do colégio pastoral da Comunidade de Jesus em Feira de Santana, BA e do grupo de pastores da Primeira Igreja Batista em Bultrins, Olinda, PE. Também faz parte da diretoria da Aliança de Batistas do Brasil e é membro da Fraternidade Teológica Latino-Americana do Brasil.
CEPESC – Centro de Pesquisa, Estudos e Serviço Cristão. E-mail cepesc@bol.com.br, site www.cepesc.com.
Fone: (71) 3266-0055.

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