laravazz.wordpress |
Marcos Monteiro*
Tornou-se um lugar comum se
defrontar com análises que falam do conformismo e despolitização da juventude.
Normalmente invocamos a época de setenta, em que a juventude enfrenta
corajosamente a ditadura, através de protestos, passeatas e até mesmo através da
guerrilha, urbana ou rural, como lugar de contraste e comparação.
Nenhuma dúvida sobre a maioria
das ações realizadas e sobre o número de jovens da época que tinham uma visão
crítica da sociedade e um empenho em ações coletivas e políticas visando construir
um mundo melhor. Muitos desses sonhavam com um mundo socialista e se moviam em
torno das experiências de sociedade ditas socialistas, modo de governo chamado
posteriormente de “socialismo real”, para acentuar as suas contradições.
Os equívocos dessas considerações
são a de considerar que esse rebuliço representava a maioria da população jovem
do país e de não perceber o grande contingente de jovens nos dias de hoje que
gastam o seu tempo em diversos tipos de lutas políticas e sociais em prol de um
mundo melhor. Também esse grupo atual não é uma maioria, mas uma minoria
crítica e heterogênea, estabelecendo lutas em frentes diferentes, por
diferentes direitos e contra diferentes preconceitos, na área de etnia, gênero
e sexualidade, por exemplo.
As recentes manifestações de rua,
são a continuidade de outras semelhantes, como “A revolta do Buzu” de Salvador,
em 2003, e a confluência de diversos grupos organizados em torno de lutas
sociais ou políticas diversificadas. Os jovens na rua são também resultantes
dessas inúmeras experiências de participação política e social de natureza
voluntária, mas organizada.
Nos anos setenta, a grande
maioria da população e a maioria da juventude, consequentemente, estava alheia
às grandes questões que se debatiam no Brasil e no mundo, além do fato da
ditadura ter proporcionado um tal de “milagre econômico” que calava a boca de
críticos e aquietava o estômago de muitos. Também nesse período o Brasil do
futebol conquista um tri-campeonato que cria a euforia natural para se explorar
uma espécie de nacionalismo ingênuo e muito conveniente.
Portanto, a despolitização da
juventude não é novidade histórica, mas condição de um processo político e
econômico que precisa despolitizar para se manter. O sentimento de que política
é alguma coisa suja que acontece em um lugar do qual não fazemos parte é a
conseqüência da apropriação do quefazer político por um grupo de pessoas que
não estão realmente interessadas na coisa pública. O cidadão não percebe o seu
poder político porque o seu exercício cotidiano não parece exercício de poder.
Consciência e participação política não são elementos mágicos, mas resultados
de um processo de aprendizado que depende de decisões concretas.
Nessa perspectiva, não é de se
admirar a despolitização, o que nos pode impressionar é admitir que alguma
consciência política e alguma participação popular sempre acontece, apesar dos
pesares, o que garante que o poder capitalista não é nem homogêneo nem
onipotente.
O movimento de jovens nas ruas
nos lembram que politização é possível e que politicidade é direito. A
mobilização pode dar visibilidade a várias lutas que acontecem em espaços menores
e a adesão crescente nos acende esperanças de crescentes aprendizados. No
processo de educação, as lutas e os movimentos são escolas de politização que
aceleram processos e que garantem conhecimentos que não estão disponíveis em
outros lugares.
Houve mais jovens nas ruas
lutando por direito de locomoção nas grandes e médias cidades, do que
torcedores nos estádios lotados da Copa das Confederações. Lembrando que, como
bom brasileiros, os manifestantes são bons torcedores; somente esse dado já nos
dá combustível suficiente para renovar otimismos.
Feira de Santana, 28 de junho de
2013.
*Marcos Monteiro é assessor de
pesquisa do CEPESC. Mestre em Filosofia, faz parte do colégio pastoral da
Comunidade de Jesus em Feira de Santana, BA e do grupo de pastores da Primeira
Igreja Batista em Bultrins, Olinda, PE. Também faz parte da diretoria da Aliança
de Batistas do Brasil e é membro da Fraternidade Teológica Latino-Americana do
Brasil.
CEPESC – Centro de Pesquisa,
Estudos e Serviço Cristão. E-mail cepesc@bol.com.br, site www.cepesc.com.
Fone: (71) 3266-0055.
Nenhum comentário:
Postar um comentário