segunda-feira, 1 de julho de 2013

AVENTURAS E DESVENTURAS DE JACÓ - II

O valor de um prato de comida
Gn 25, 27-34

O patriarca Jacó vai dar nome e identidade à nação de Israel.

Examinado literariamente parece uma personagem popular, astuta, que joga o jogo da sobrevivência na luta por espaço em um lugar definido antes dele.

As narrativas parecem daquelas histórias que correm entre o povo, de boca em boca, em que o herói é o anti-herói, inventando e reinventando ética, política e religião.

Curiosamente, Javé está do lado desse herói cheio de artimanhas, e não do lado do estabelecido e instituído.

Javé é companhia e auxílio no jogo do mais fraco. Provavelmente se diverte com isso e suas atitudes vão delineando aquilo que será conhecido como sua misericórdia.


Sétimo dia

“Deu, pois, Jacó a Esaú pão e o cozinhado de lentilhas: ele comeu e bebeu, levantou-se e saiu. Assim desprezou Esaú o seu direito de primogenitura” (Gn 25, 34).

Esaú é valente e caçador, amado pelo pai, líder entre os homens. Jacó é pacato cozinheiro, amado pela mãe, bom com as mulheres.

O primeiro se movimenta no mistério do campo e da floresta, o segundo no conforto da tenda. Esaú é forte, Jacó é matreiro.

Quando Esaú chegou exausto da aventura e faminto, Jacó fez da necessidade do mais forte a oportunidade do mais fraco, e vendeu-lhe um cozinhado de lentilhas, ou comprou um direito de primogenitura, a mesma coisa ou quase.

Jacó tem fome de direito, Esaú fome de lentilhas. Quem vive cheio de direito não sabe a falta que este faz. Na transação comercial que se segue é o cozido mais caro da história e o direito mais barato.

O cozido de lentilhas é tangível e imediato, o direito do primogênito é intangível e futuro: vale mais na morte dos pais, direito de herdeiros.

Esaú despreza o seu futuro, ou seu título intangível, e vende o seu direito; Jacó compra. A narrativa é tendenciosa: silencia sobre o ardil de Jacó e culpa Esaú.

Na voz do povo, que será a voz de Deus, a artimanha seria o direito legítimo dos sem-direitos.

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