O valor de um prato
de comida
Gn 25, 27-34
O patriarca Jacó vai dar nome e
identidade à nação de Israel.
Examinado literariamente parece
uma personagem popular, astuta, que joga o jogo da sobrevivência na luta por
espaço em um lugar definido antes dele.
As narrativas parecem daquelas
histórias que correm entre o povo, de boca em boca, em que o herói é o
anti-herói, inventando e reinventando ética, política e religião.
Curiosamente, Javé está do lado
desse herói cheio de artimanhas, e não do lado do estabelecido e instituído.
Javé é companhia e auxílio no jogo do mais fraco.
Provavelmente se diverte com isso e suas atitudes vão delineando aquilo que
será conhecido como sua misericórdia.
Sétimo dia |
“Deu, pois, Jacó a Esaú pão e o
cozinhado de lentilhas: ele comeu e bebeu, levantou-se e saiu. Assim desprezou
Esaú o seu direito de primogenitura” (Gn 25, 34).
Esaú é valente e caçador, amado
pelo pai, líder entre os homens. Jacó é pacato cozinheiro, amado pela mãe, bom
com as mulheres.
O primeiro se movimenta no
mistério do campo e da floresta, o segundo no conforto da tenda. Esaú é forte,
Jacó é matreiro.
Quando Esaú chegou exausto da
aventura e faminto, Jacó fez da necessidade do mais forte a oportunidade do
mais fraco, e vendeu-lhe um cozinhado de lentilhas, ou comprou um direito de
primogenitura, a mesma coisa ou quase.
Jacó tem fome de direito, Esaú
fome de lentilhas. Quem vive cheio de direito não sabe a falta que este faz. Na
transação comercial que se segue é o cozido mais caro da história e o direito
mais barato.
O cozido de lentilhas é tangível
e imediato, o direito do primogênito é intangível e futuro: vale mais na morte
dos pais, direito de herdeiros.
Esaú despreza o seu futuro, ou
seu título intangível, e vende o seu direito; Jacó compra. A narrativa é
tendenciosa: silencia sobre o ardil de Jacó e culpa Esaú.
Na voz do povo, que será a voz de Deus, a artimanha
seria o direito legítimo dos sem-direitos.
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