Marcos Monteiro*
No momento em que a ideologia do
fim da história tenta manipular nossas percepções e consciências, uma greve de
professores que bate todos os recordes de permanência nos remete novamente à
esperança. Greve é instrumento de luta
que, dentro de seus limites, movimenta questões, gerando um processo prático de
aprendizado, desafiando nossa conscientização. Greve de professores é um
processo duplamente pedagógico. Luta por dignidade e por “salários menos
imorais” nos lembra Paulo Freire é dever irrecusável e se torna corporificação
e concretização do ensino.
Como luta, se realiza em meio a
emoções que expõem a coragem e a fragilidade do ser humano. Medo, angústia,
hesitações, fazem parte da nossa constituição, especialmente em tais momentos.
Mas, também, coragem, tenacidade e alegria nos acometem e nos guiam pelos
caminhos da conquista do novo. Somos seres voltados para o futuro e as
masmorras do passado e as poltronas do presente não podem aniquilar nossa
vontade.
Tenho acompanhado amigos e amigas
que se movimentam pelas emoções da greve. Quando a última assembléia da
categoria se decidiu pela continuação, o sentimento de uma amiga com
dificuldade para pagar suas contas era de uma incrível exultação. Estampava no
rosto e na fala um orgulho da categoria, exatamente nesse momento em que a
auto-estima dos profissionais do ensino não é das melhores. O autoritarismo e a
prepotência não consumaram o aviltamento já proposto pelo sistema capitalista,
ao transformar o sábio e educador em servidor assalariado.
Dentre as emoções cabíveis e
formadoras, precisamos evocar, novamente com Paulo Freire, a raiva. Raiva
contra atitudes indignas, contra medidas retaliativas imorais, contra
mecanismos de coisificação dos seres humanos, nesse caso dos professores e
professoras do estado da Bahia. Raiva que não pode se tornar em raivosidade,
mas raiva legítima, capaz de manter o foco e a continuidade da luta, não se
permitindo dobrar diante de medidas e argumentos paliativos.
A greve é um momento de
possibilidade de tomada de consciência. Na luta, os atores tiram as máscaras e
o jogo do poder se torna visível. Fica muito claro que os interesses do estado
não coincidem com os interesses da educação e os professores podem se perceber
efetivamente como educadores e agentes de transformação.
Greve, repetimos, é instrumento
limitado de transformação. Mas cumpre um papel contestador e revelador. A
transformação radical da sociedade não é tarefa isolada de nenhuma pessoa ou
grupo. Entretanto, quando a greve de professores do estado da Bahia continua,
aumenta a esperança de que uma consciência crítica e transformadora esteja em
curso.
Feira de Santana, 17 de julho de
2012.
*Marcos Monteiro é assessor de
pesquisa do CEPESC. Mestre em Filosofia, faz parte do colégio pastoral da
Comunidade de Jesus em Feira de Santana, BA. Também é um dos pastores da
Primeira Igreja Batista em Bultrins, Olinda, PE e é membro do Portal da Vida e
da Fraternidade Teológica Latino-Americana.
CEPESC – Centro de Pesquisa, Estudos
e Serviço Cristão. E-mail cepesc@bol.com.br, site www.cepesc.com.
Me peguei com saudades de vc, estou enredada numa dívida grande contigo...Mas tão logo matarei esta saudade! Rs...E eis que me deparo com mais um texto tão lúcido sobre este momento histórico da Educação Baiana, em que embora desunida, enfim, a luta por melhores salários chegou a um nível nunca antes visto...Que essa marcha se fortaleça, juntamente com essa categoria! AVANTE!!Yeaah**
ResponderExcluirOlá , seu blog é muito bom, e desde já quero dar-lhe os parabéns, meu nome é: António Batalha, e quero deixar-lhe um convite, se quiser fazer parte de meus amigos virtuais no blog Peregrino E Servo ficarei muito radiante. Claro que irei retribuir seguindo também seu blog.Como sou um homem de Deus deixo-lhe a minha bênção. E que Seja feliz você e sua casa.
ResponderExcluir