terça-feira, 17 de julho de 2012

QUANDO A GREVE CONTINUA



Marcos Monteiro*

No momento em que a ideologia do fim da história tenta manipular nossas percepções e consciências, uma greve de professores que bate todos os recordes de permanência nos remete novamente à esperança.  Greve é instrumento de luta que, dentro de seus limites, movimenta questões, gerando um processo prático de aprendizado, desafiando nossa conscientização. Greve de professores é um processo duplamente pedagógico. Luta por dignidade e por “salários menos imorais” nos lembra Paulo Freire é dever irrecusável e se torna corporificação e concretização do ensino.

Como luta, se realiza em meio a emoções que expõem a coragem e a fragilidade do ser humano. Medo, angústia, hesitações, fazem parte da nossa constituição, especialmente em tais momentos. Mas, também, coragem, tenacidade e alegria nos acometem e nos guiam pelos caminhos da conquista do novo. Somos seres voltados para o futuro e as masmorras do passado e as poltronas do presente não podem aniquilar nossa vontade.

Tenho acompanhado amigos e amigas que se movimentam pelas emoções da greve. Quando a última assembléia da categoria se decidiu pela continuação, o sentimento de uma amiga com dificuldade para pagar suas contas era de uma incrível exultação. Estampava no rosto e na fala um orgulho da categoria, exatamente nesse momento em que a auto-estima dos profissionais do ensino não é das melhores. O autoritarismo e a prepotência não consumaram o aviltamento já proposto pelo sistema capitalista, ao transformar o sábio e educador em servidor assalariado.

Dentre as emoções cabíveis e formadoras, precisamos evocar, novamente com Paulo Freire, a raiva. Raiva contra atitudes indignas, contra medidas retaliativas imorais, contra mecanismos de coisificação dos seres humanos, nesse caso dos professores e professoras do estado da Bahia. Raiva que não pode se tornar em raivosidade, mas raiva legítima, capaz de manter o foco e a continuidade da luta, não se permitindo dobrar diante de medidas e argumentos paliativos.

A greve é um momento de possibilidade de tomada de consciência. Na luta, os atores tiram as máscaras e o jogo do poder se torna visível. Fica muito claro que os interesses do estado não coincidem com os interesses da educação e os professores podem se perceber efetivamente como educadores e agentes de transformação.

Greve, repetimos, é instrumento limitado de transformação. Mas cumpre um papel contestador e revelador. A transformação radical da sociedade não é tarefa isolada de nenhuma pessoa ou grupo. Entretanto, quando a greve de professores do estado da Bahia continua, aumenta a esperança de que uma consciência crítica e transformadora esteja em curso.

Feira de Santana, 17 de julho de 2012.

*Marcos Monteiro é assessor de pesquisa do CEPESC. Mestre em Filosofia, faz parte do colégio pastoral da Comunidade de Jesus em Feira de Santana, BA. Também é um dos pastores da Primeira Igreja Batista em Bultrins, Olinda, PE e é membro do Portal da Vida e da Fraternidade Teológica Latino-Americana.
CEPESC – Centro de Pesquisa, Estudos e Serviço Cristão. E-mail cepesc@bol.com.br, site www.cepesc.com

2 comentários:

  1. Me peguei com saudades de vc, estou enredada numa dívida grande contigo...Mas tão logo matarei esta saudade! Rs...E eis que me deparo com mais um texto tão lúcido sobre este momento histórico da Educação Baiana, em que embora desunida, enfim, a luta por melhores salários chegou a um nível nunca antes visto...Que essa marcha se fortaleça, juntamente com essa categoria! AVANTE!!Yeaah**

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  2. Olá , seu blog é muito bom, e desde já quero dar-lhe os parabéns, meu nome é: António Batalha, e quero deixar-lhe um convite, se quiser fazer parte de meus amigos virtuais no blog Peregrino E Servo ficarei muito radiante. Claro que irei retribuir seguindo também seu blog.Como sou um homem de Deus deixo-lhe a minha bênção. E que Seja feliz você e sua casa.

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