Marcos Monteiro*
Greve é direito assegurado pela
lei da maioria dos países do mundo e pertence ao sistema capitalista. Ou seja,
é instrumento de luta moderado, apenas para tentar diminuir o desequilíbrio nas
relações capital-trabalho. Quando acontece no setor público, como na greve dos
professores do Estado da Bahia, levanta uma série de questões.
As greves contra atitudes
administrativas do Estado parecem ser das mais demoradas, como a dizer que na
hora da verdade, quando age como empregador, o Estado é um dos piores
negociadores do sistema. Nesses momentos, o Estado de Direito parece se tornar
apenas direito do Estado, levantando suspeitas legítimas na famosa
independência entre poder executivo e poder judiciário.
Os professores do Estado da Bahia
fazem greve apenas para garantir direitos já adquiridos e, no entanto sua greve
é considerada ilegal seguidamente, provocando a conhecida batalha de liminares
judiciais. Com três meses de salários cortados, o que seria ilegal, reúnem-se
hoje em assembléia para decidir sobre a continuidade ou não da luta.
Contra o direito dos trabalhadores
do ensino no Estado, o governador mostrou-se e mostra-se administrador muito
eficiente. Não temos certeza da mesma habilidade em outros setores de aplicação
de políticas públicas. O sonhado e desejado novo governo da Bahia, nem é tão
novo em seus procedimentos nem entende muito de sonhos e desejos.
Curiosamente, o governador foi um
grande militante de lutas populares, o que significa que aprendeu a enfrentar
greves no tempo que as organizava. Repete medidas antigas, mas acrescenta
algumas novas, como a mostrar que faltara criatividade na repressão que
enfrentou. Intransigente em não dialogar nem ceder, contratou educação privada
caríssima, sem licitação, para desestabilizar a greve.
Estado e direito e Estado e
direita têm a tendência de andarem de mãos dadas pelas praças do poder. A
perplexidade se estabelece quando alguém com um histórico de esquerda assume a
direção do Estado. Nesses momentos, os seres humanos se mostram
fundamentalmente ambidestros e a situação se agrava. Os oponentes do poder passam
a ser golpeados pela esquerda e pela direita.
Todos entenderão se professores,
pais e mães de família, com salários atrasados e com ameaças de penalidades
pelo direito do Estado, resolverem não continuar uma greve que qualquer análise
mais ou menos profunda considera legítima. Mas, para quem gosta de construir
sonhos e utopias, caso a greve seja interrompida, será inevitável a sensação de
que a dignidade, a cidadania, a educação, o poder popular e o direito de greve,
foram nocauteados com um “jab” de direita e um cruzado de esquerda.
Feira de Santana, 10 de julho de
2012
*Marcos Monteiro é assessor de
pesquisa do CEPESC. Mestre em Filosofia, faz parte do colégio pastoral da
Comunidade de Jesus em Feira de Santana, BA. Também é um dos pastores da
Primeira Igreja Batista em Bultrins, Olinda, PE e é membro do Portal da Vida e
da Fraternidade Teológica Latino-Americana.
CEPESC – Centro de Pesquisa,
Estudos e Serviço Cristão. E-mail cepesc@bol.com.br, site www.cepesc.com.
O pastor Marcos Monteiro, com sua lucidez política e acima de tudo sua perspectiva cristã, traduziu neste artigo a realidade da greve dos professores da rede estadual baiana.
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