Marcos Monteiro*
Somos todos
limitados, mas diversos em nossos limites. Nosso limite é o lugar particular de
onde contemplamos o horizonte. Porque se somos diferentes nos limites
vislumbramos diferentes horizontes. Caminhar para o horizonte é vocação, busca
incansável pelo novo que nos aguarda naquela linha em que terra e céu se
encontram. Horizonte é convite a superação, ultrapassagem transcendental da
banalidade dos nossos limites.
Localizados na
América Latina, compartilhamos com vizinhos os limites da colonização ibérica,
o amálgama de civilizações diferentes, as marcas na carne do predador
insaciável. De certa forma, somos os sobreviventes de disfarçados genocídios,
grupos, povos e raças jogados no mesmo liquidificador. Uma espécie de
des-identidade nos acompanha a todos e todas, com a dificuldade de nos
reconhecermos em qualquer tipo de categoria.
Para o
filósofo alemão Karl Jaspers as situações-limite definem o nosso modo de ser.
Culpa, dor, morte são limites estruturais, além do próprio limite de sempre
estarmos em limite. O limite nos garante o naufrágio, mas o naufrágio é
oportunidade de caminharmos da sobrevivência para a consciência, da consciência
para o espírito e do espírito para a existência. Somos seres no mundo e seres
para a transcendência. A cada novo passo um novo horizonte, sendo a
transcendência o horizonte de todos os horizontes, o inalcançável absoluto.
Paulo Freire
se definindo como pernambucano, brasileiro, latino-americano e cidadão do
mundo, portanto ser situado e ser em limite, nos apresenta a situação-limite
como desafio a ser vencido e o teólogo Jurgen Moltmann afirma que só
conheceremos os nossos limites tentando ultrapassá-los.
Os nossos
limites, por conseguinte, não são cercas ou paredes, mas horizontes. Ou seja,
há uma amplidão nos nossos próprios limites que precisa ser percorrida, com o
gosto de quem desfruta da companhia amiga do sempre. Mas os horizontes estão
postos, insistindo sobre novos mundos e novos limites além do limite. Viver como
sempre é privar-se da excitação do inusitado.
Todos somos
seres políticos, o que quer dizer que a totalidade constituída ou se
constituindo é um dos nossos limites. Nas nossas relações administramos uma
certa dose de poder de que dispomos e com a qual performamos cotidianos. Viver
limites demarcados por horizontes significa atenção crítica para os grandes
movimentos políticos que definem as regras gerais da sociedade, e luta
consciente para que tais condições sejam cada vez mais viáveis.
Sociedade política,
sociedade civil; relações econômicas, políticas, sociais; família, sexo,
religião; moral, ética, direito; igualdade, liberdade, fraternidade; fé, amor,
esperança; geografia, história; espaço, tempo; passado, presente, futuro; são
limites sem muros, cercados de horizontes.
Feira de Santana, 27 de janeiro
de 2012
*Marcos Monteiro é assessor de
pesquisa do CEPESC. Mestre em Filosofia, faz parte do colégio pastoral da
Comunidade de Jesus em Feira de Santana, BA. Também faz parte das diretorias do
Centro de Ética Social Martin Luther King Jr. e da Fraternidade Teológica
Latino-Americana do Brasil
CEPESC – Centro de Pesquisa,
Estudos e Serviço Cristão. E-mail cepesc@bol.com.br, site www.cepesc.com.
Fone: (71) 3266-5526.
Esse texto e o mais recente provocou um caos, uma inquietude em mim,
ResponderExcluirpreciso me esvaziar..!