sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

NOS LIMITES DA SITUAÇÃO




Marcos Monteiro*

Somos todos limitados, mas diversos em nossos limites. Nosso limite é o lugar particular de onde contemplamos o horizonte. Porque se somos diferentes nos limites vislumbramos diferentes horizontes. Caminhar para o horizonte é vocação, busca incansável pelo novo que nos aguarda naquela linha em que terra e céu se encontram. Horizonte é convite a superação, ultrapassagem transcendental da banalidade dos nossos limites.

Localizados na América Latina, compartilhamos com vizinhos os limites da colonização ibérica, o amálgama de civilizações diferentes, as marcas na carne do predador insaciável. De certa forma, somos os sobreviventes de disfarçados genocídios, grupos, povos e raças jogados no mesmo liquidificador. Uma espécie de des-identidade nos acompanha a todos e todas, com a dificuldade de nos reconhecermos em qualquer tipo de categoria.

Para o filósofo alemão Karl Jaspers as situações-limite definem o nosso modo de ser. Culpa, dor, morte são limites estruturais, além do próprio limite de sempre estarmos em limite. O limite nos garante o naufrágio, mas o naufrágio é oportunidade de caminharmos da sobrevivência para a consciência, da consciência para o espírito e do espírito para a existência. Somos seres no mundo e seres para a transcendência. A cada novo passo um novo horizonte, sendo a transcendência o horizonte de todos os horizontes, o inalcançável absoluto.

Paulo Freire se definindo como pernambucano, brasileiro, latino-americano e cidadão do mundo, portanto ser situado e ser em limite, nos apresenta a situação-limite como desafio a ser vencido e o teólogo Jurgen Moltmann afirma que só conheceremos os nossos limites tentando ultrapassá-los.

Os nossos limites, por conseguinte, não são cercas ou paredes, mas horizontes. Ou seja, há uma amplidão nos nossos próprios limites que precisa ser percorrida, com o gosto de quem desfruta da companhia amiga do sempre. Mas os horizontes estão postos, insistindo sobre novos mundos e novos limites além do limite. Viver como sempre é privar-se da excitação do inusitado.

Todos somos seres políticos, o que quer dizer que a totalidade constituída ou se constituindo é um dos nossos limites. Nas nossas relações administramos uma certa dose de poder de que dispomos e com a qual performamos cotidianos. Viver limites demarcados por horizontes significa atenção crítica para os grandes movimentos políticos que definem as regras gerais da sociedade, e luta consciente para que tais condições sejam cada vez mais viáveis.

Sociedade política, sociedade civil; relações econômicas, políticas, sociais; família, sexo, religião; moral, ética, direito; igualdade, liberdade, fraternidade; fé, amor, esperança; geografia, história; espaço, tempo; passado, presente, futuro; são limites sem muros, cercados de horizontes.

Feira de Santana, 27 de janeiro de 2012

*Marcos Monteiro é assessor de pesquisa do CEPESC. Mestre em Filosofia, faz parte do colégio pastoral da Comunidade de Jesus em Feira de Santana, BA. Também faz parte das diretorias do Centro de Ética Social Martin Luther King Jr. e da Fraternidade Teológica Latino-Americana do Brasil
CEPESC – Centro de Pesquisa, Estudos e Serviço Cristão. E-mail cepesc@bol.com.br, site www.cepesc.com.
Fone: (71) 3266-5526. 

Um comentário:

  1. Esse texto e o mais recente provocou um caos, uma inquietude em mim,
    preciso me esvaziar..!

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