Gn 24,67
“Isaque conduziu-a até à tenda de Sara, mãe dele, e tomou a Rebeca, e esta lhe foi por mulher. Ele a amou: assim foi Isaque consolado depois da morte de sua mãe”.
È preciso meditar nos caíres das tardes.
Nos jeitos patriarcais de ser nômade, Isaque, desde Moriá, se via sem pai ou dividindo pai com Javé, quase a mesma coisa.
A morte de Sara transformou em saudade a mulher atrevida, que ria dos deuses e afrontava o pai. Mulher que fazia da carícia tática e do amor, direito. Felina que protege filho até de caçoadas do irmão mais velho.
Os horizontes trazem surpresas e do meio dos camelos surge a mulher, mistério coberto por véus.
Os abismos da existência apressam o tempo do amor. È preciso levar Rebeca até a tenda, logo. Urgência de criador, prestes a inventar novamente a mulher.
Véus não são para serem tirados. O tempo do amor é o gerúndio. Véus devem ir-se tirando pouco a pouco, a olhar o olhar. E devem ser sempre recolocados; para sempre haver véus para tirar.
A tenda é a fragilidade do lugar onde os véus sempre estarão sendo tirados. Isaque amou Rebeca, a mulher que criou de dentro dos véus. A mulher que criou na tenda de sua mãe.
Os caminhos solitários das tardes estavam plenos de um vazio do tamanho da morte. Mas a surpresa dos horizontes trouxe a mulher viva, Rebeca, a consoladora que cabia em uma tenda.
A tenda é o lugar próprio para o amor, como os caminhos são o próprio lugar da solidão. Mas amor só se torna amor quando não é próprio. A tenda é o lugar para impropriar o amor.
"É preciso meditar nos caíres das tardes"... Sim... dizem ser a hora triste, a hora da saudade... a hora do crepúsculo. Onde o dia está se despedindo, dando lugar à fria noite. Até que a noite vem e nos mostra que não é tão fria assim... que pode ser apenas uma criança...
ResponderExcluirMas o cair da tarde... esse sim! Abriga dor, tristeza, saudade, mas também é a hora dos amantes, dos amados, dos enamorados!! Uma tenda de amor a quem precisa, para transformar uma hora em que tudo é triste, em alegria, gozo e paixão!!
Só mesmo o amor para renovar as esperanças!!! A tenda é o lugar onde o amor impera!! "E aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal". F. Nietzsche.
Um beijo Madoniram!! Obrigada pelas meditações que aquecem sempre minha alma de esperança!!!
"O tempo do amor é o gerúndio". Ai de nós se não fosse assim... Bela reflexão!
ResponderExcluirGostei imensamente do texto, as histórias de amor vividas há tanto tempo inspirando futuros amantes ("quiçá se amarão sem saber/o amor que um dia deixei pra vc"). Neste eterno amor, que nos faz reinventar a vida, ir tirando e colocando véus num eterno jogo de sedução, de carinhos, de caricias e mistérios.
ResponderExcluirParabéns Marcos, você com palavras sábias, mostra que o amar é algo simples, pena que nós complicamos as coisas...
ResponderExcluir"Mas amor só se torna amor quando não é próprio. A tenda é o lugar para impropriar o amor."
ResponderExcluirBelíssimo!
Quero amar numa tenda destas! E que nela, os véus venham a ser tirados, um a um...
Sempre colho boas palavras e emoções aqui. Abraço.
Rsrsrs. Obrigado, Marcos, por me receber em sua tenda. Saudades.
ResponderExcluir