Marcos Monteiro*
No segundo turno, muitos de nós escolhemos o governo Dilma, preparados para projetos que atingiam alguns pontos básicos. Crescimento monetário, políticas compensatórias, atitudes determinantes em áreas básicas, como saneamento e habitação, e nos preparávamos para ritmos de atividades econômicas quase alucinantes. Se havia alguma perplexidade quando ao destino do mundo, isso era coisa de estrangeiro, norte-americano ou europeu, aqui o Brasil era o país da vez e estaríamos vendo luz no fim do túnel. Até porque temos muito petróleo para queimar.
Não completamos os primeiros clássicos cem dias, mas estamos tentando decifrar os sinais vindos de cada medida e cada atitude do governo. Gostaríamos de ter resposta para algumas perguntas. Algumas de clara continuidade. Os serviços públicos continuarão em caminho de aperfeiçoamento? As contratações de servidores estarão cada vez mais dentro de critérios de eficiência e capacidade, propiciadas por concursos lídimos? A aquisição de casa própria contará com incentivo do governo? As obras de infra-estrutura estarão sendo realizadas em que nível?
Perguntas tímidas, sem muita cobrança ideológica, apenas para entender que lógica estaremos administrando nesses próximos anos. Sabemos que o mundo ainda vive um grande momento de perplexidade. Mas parecia que esse desconforto global não passeava pelas calçadas do Brasil, que estava abrindo uma caixa de surpresas para enfrentar o período de crise advinda. Na imbricação de poder em que vivemos, é inevitável que cada medida em Brasília cause perguntas nas periferias.
Até o momento, Dilma parece estar agindo como uma boa dona de casa que organiza os móveis e elabora orçamentos, dentro do padrão histórico da ação da mulher. O acréscimo de conquistas recentes, capacidade de gestão pública e atividade política nos grandes espaços, podem ser vistos, com algum esforço, mas não parece que teremos grandes surpresas à vista.
As respostas que queremos, enquanto cidadãos comuns, passa por esse nosso indisfarçável cotidiano. Aumento de salário e de bolsa família em projeto de corte orçamentário alegra-nos um pouco. Mas, vamos e venhamos, os aumentos não foram significativos, e gostaríamos de conhecer algo de novo para aumentarmos o tamanho de nossa esperança. Até o momento, a macro-gestão nos tem trazido micro-perplexidades.
Sabemos que é muito cedo, mas não conseguimos evitar a sensação de que as coisas se passam fora de nosso controle e conhecimento e de que não teremos resposta clara para as nossas perguntas. O poder provoca a cisão lingüística parecida com a de Macunaíma, um país que fala de um jeito e escreve de outro. A língua escrita em Brasília desconfiamos que não seja o português, menos ainda o português cotidiano, com o qual convivemos muito bem, obrigado.
Nessa nossa dificuldade de leitura de discursos, processos e procedimentos, acumulamos um desconforto maior ainda. A sensação que carregamos é a de quem segue à deriva sem obter respostas, mas também com a nítida impressão de não conhecer nem mesmo as perguntas. Gostaríamos de saber para onde caminhamos, mesmo sabendo que ainda é cedo para delinear caminhos. Mas gostaríamos de nos sentir participantes de um projeto de país que é o nosso país e perder esse estranho sentimento de estrangeiro em nossa própria pátria.
Feira de Santana, 03 de março de 2011.
*Marcos Monteiro é assessor de pesquisa do CEPESC. Mestre em Filosofia, faz parte do colégio pastoral da Comunidade de Jesus em Feira de Santana, BA. Também faz parte das diretorias do Centro de Ética Social Martin Luther King Jr. e da Fraternidade Teológica Latino-Americana do Brasil
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