O texto escorregou num pântano de epíforas e começou a desaparecer, sufocado pelo visgo de metáforas, sinédoques e metonímias.
No poço sem fundo de areia movediça recorreu ao Barão de Munchausen e levantou-se pelos cabelos, distendendo-se exausto pelas margens.
E resolveu correr sem parar nem mesmo para respirar sentir-se vento e relva durante espaços que não tinham fim e deslizar dourado pelo sol do sol até que raios e réstias o refizessem pelos caminhos do caminho sem medo de correr nem de caminhar.
Mas, pedras, pedrinhas, pedregulhos, ferem, furam, dificultam as passadas... tornam o texto reticente... interrompendo ditos... ou promessas... vagarosando as letras; como se vacilasse; como se as palavras tossissem; como se os ritmos nunca chegassem ao fim.
De repente, em abundância sem fim de onomatopéias, uma alcatéia de predadores vorazes perseguem-lhe e esbaforido apressa o passo o terror lhe restaurando forças e intenções semânticas.
Refugiou-se em cabana de camponeses. Em sua hospitalidade, não podiam evitar o olhar desconfiado para o seu jeito magro e sua aparência andrajosa.
Mas as crianças curiosas foram se acercando devagar, percorrendo-lhe o corpo, cofiando-lhe a barba, trazendo-lhe cócegas e carinhos.
Logo, logo, estavam todos às gargalhadas, entendendo-se sem se entender, achando graça nas roupas, nas fitas nos cabelos, procurando e inventando significados.
Mas o texto continua que textos são peregrinos.
O deserto escaldante não tem fim... Sol é estrela que suga até a alma, mas é preciso caminhar sempre.
De desertos por desertos para desertos e em desertos, preposições são cactos que não dão flores nem água.
Sobreviver é possibilidade e impossibilidade. Desertos são como o Sussuarão de Guimarães Rosa ou como a terra dos homens de Exupery.
Terra, areia, areia, terra, sol, terra, areia, areia, terra, areia, terra, terra, areia, sol, sol, sol, sol. E as saudades. E as miragens. E os desejos. E as lembranças. E a esperança. A esperança.
Finalmente, chegou ao destino destinado ou ao destino destinante. Dormiu sono merecido em merecida prateleira, até a próxima peregrinação.
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