sábado, 19 de fevereiro de 2011

A tessitura de um texto.

A maior pretensão possível é escrever um texto despretensioso, assim casualmente, como um texto que se vai tecendo a si mesmo sem projetos e intenções.

Porque o mais complicado é descomplicar. Atingir a simplicidade é tão complexo que estaria ao alcance somente dos não iniciados ou dos especialistas.

Desses textos, não se pediriam explicações. Não necessitariam de adornos, longos períodos de poesia pretendida, como a pedir desculpas.

Os advérbios e adjetivos se espreguiçariam nas entrelinhas até adormecerem de tédio, esses funcionários da ornamentação, vigilantes do fraseado e espreitadores dos períodos, censores de prontidão diante da vacilação do argumento.

A casualidade do texto só se atinge casualmente, quando sem desespero abandonamos a esperança e escrevemos. Texto preciso como uma única nota musical e mais nada, texto que surge não no acontecimento, mas no ponto do horizonte que se fez navio.

Não se vai a esse texto, ele vem. Quando chega não arrebata nem fragmenta, apenas preenche. E tem sua própria maneira de preencher.

Ler esse texto é despir a mulher amada, quando bem vestida, escrever esse texto é não escrevê-lo. Permitir-se ser acariciado pela sua tessitura até tornar-se signo e linguagem. Leve e sem tensões só a agonia pode concebê-lo, quando se distende e se quebra.

Será tecido em um ímpeto ou será durante toda a vida escrito e desescrito. Ou pão de forma em ponto de cocção ou novelo de lã que se enrola e desenrola ou somente texto.

Pode-se distender a alma na espera da palavra ou pode-se lançá-la de imediato quando chega límpida. E ciente da paciência ou paciente da ciência acariciar imagens.

E é preciso pretender terminar o texto despretensiosamente e mesmo sem saber se é ou não somente mais um texto deixá-lo ser no final apenas texto.

2 comentários:

  1. Marcos,
    Gostei do texto metalinguístico.
    Brincando com as palavras para falar delas próprias...

    Rubem Alves nos lembra que "quem lê bebe o sangue de quem escreveu"...
    Bom vir aqui e dar uma de vamipiro... ;}

    Valeu, abraço!

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  2. Na teia do texto nossa pretenções querem seduzit o leitor, capta-lo com nossa rede...

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