terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Tempo e espaço para a voz de Deus

Mc 1,9-11

“Naqueles dias veio Jesus de Nazaré da Galiléia e por João foi batizado no rio Jordão.
Logo ao sair da água, viu os céus rasgarem-se e o Espírito descendo como pomba sobre ele.
Então se ouviu uma voz dos céus: Tu és o meu Filho amado, tenho muito prazer em ti”


Qual o tempo de se ouvir a voz de Deus? O carpinteiro de Nazaré já tem trinta anos, não seria propriamente um jovem para os padrões da sua aldeia.

Quem pode falar em nome de Deus? Os doutores da lei? Os maiorais da sinagoga? Os sacerdotes do templo? Os habitantes dos palácios? Os governadores do mundo?

Para o carpinteiro de Nazaré era a hora de sair da carpintaria para ouvir o estranho profeta, João Batista, falando no deserto. O tempo e a voz de Deus são inesperados, hora e lugar estranhos, e é preciso peregrinar para desertos a buscar a voz de Deus.

Deserto é estratégia para aumentar sede até a alma ficar seca. Deserto é lugar de queimar mesmo o silêncio do coração. Extinguir todas as vozes para que ressoe apenas a voz do profeta.

Largar a carpintaria é desertificar a vida, desalojar as certezas e buscar a incerta voz de Deus, que a voz de Deus está sempre fora de tempo e fora de lugar.

Depois da sede do deserto, o Jordão, que somente se banha no Jordão quem se arrisca no deserto. O batismo traz o Pássaro Santo de Deus, ave que encontra repouso no corpo sedento do carpinteiro.

Mergulhar no Jordão é imergir na voz refrescante de Deus depois da sequidão do deserto. A voz que vem é voz de Pai que ama e sente prazer na vida do Filho.

No batismo, o corpo sequioso torna-se leito para o rio, ninho para o Pássaro Santo e lugar para que o céu rasgado derrame os seus astros, em carinhosa voz.

Depois do Jordão não se pode mais voltar para a carpintaria. Os novos caminhos da vida vão levar Jesus de Nazaré de volta ao deserto.

Na volta o deserto é travessia para umedecer chãos secos e realizar colheitas impossíveis, cheio da Brisa Santa, com a voz do Pai ressoando dentro, molhado de Jordão.


Feria de Santana, 08 de fevereiro de 2011.

3 comentários:

  1. Que a Brisa Santa continue soprando sobre vc!! E que vc nos traga refrigérios para a alma, como esse texto... Muito bom meditar sobre isso hoje!! Obrigada!!

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  2. Muito bomm Marcos... Esse parágrafo então: "Deserto é estratégia para aumentar sede até a alma ficar seca." Que os desertos nos deem sede de viver e que a alma seca nos faça procurar os Rios, lugares de encontro, com o Pai, com os outros e com nós mesmos...

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  3. Maravilhoso sempre!!!
    è sempre um desafio ler seus textos Marcos. Parabéns!

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