Flauribento Albuquerque da Conceição, foi menino como os outros na Vila, mas cresceu na vida, diplomou-se em Geografia, empinou a cara, e passou a apertar a mão assim distanciadamente e a ensinar que Paris é capital da França e Cabul do Afeganistão para quem quer e não quer ouvir.
O humor duro e anguloso de Seu Dolivaldo, que não agrada a Maria Nilda, mas que traz perspectivas surpreendentes, comenta o fato:
– Passou de cangalha a sela, mas não deixou de ser montaria.
A frase malvada e a malvada gargalhada minha encaminharam idéias, lembranças e imaginação para esses tipos de saberes da escola, saber Flauribento, e essa sabença desescolarizada, saber Dolivaldo, que se encontram e desencontram pelos caminhos da vida.
Esse saber que vem da escola e que dá diploma é considerado superior e essa sabença que vem da enxada, da fábrica, do trabalho braçal, é visto como saber de segunda categoria, até mesmo como ignorância.
Lembrei de Paulo Freire que dizia que a função do intelectual é recolher do povo essa sabedoria cotidiana, que não se aprende na escola, e devolver problematizada para o mesmo.
E lembrei de Jesus, na sinagoga onde crescera, na aldeia de Nazaré, comentando texto escrito, saber escolar, a partir de suas percepções próprias. “De onde vem a sabedoria desse carpinteiro?” – perguntavam. A resposta poderia ser simplesmente essa: – “Da carpintaria”.
Há saberes que somente podem ser encontrados nas carpintarias da vida, distantes das lições oficiais. Os estóicos falavam de uma racionalidade divina presente no universo e podemos admitir que há um saber divino e humano espalhado pelos caminhos da vida.
Mas a frase de Seu Dolivaldo nos traz mais coisas. O que significa crescer na vida? Trocar cangalha por sela?
A sabedoria do povo e o saber escolar perdem o sentido se não libertam o ser humano. Saber e poder andam juntos e todo o sistema educacional pode ser usado para escravizar, para transformar pessoas em burros de carga, ou elegantes montarias das elites dominantes.
A empáfia de Flauribento pode ser uma triste maneira de esconder uma vida de cabresto, sela e espora, obrigando-o a percorrer caminhos que não escolheu e a desembestar pela vida e pela Vila, montaria de um sistema escravizador.
Ser educado, portanto, não significa mera sofisticação de apetrechos de dominação, mas o aprendizado de ser mais humano, pronto para o amor e para o trabalho, enquanto serviço à vida e à humanidade, mas sem cangalhas ou selas.
O humor duro e anguloso de Seu Dolivaldo, que não agrada a Maria Nilda, mas que traz perspectivas surpreendentes, comenta o fato:
– Passou de cangalha a sela, mas não deixou de ser montaria.
A frase malvada e a malvada gargalhada minha encaminharam idéias, lembranças e imaginação para esses tipos de saberes da escola, saber Flauribento, e essa sabença desescolarizada, saber Dolivaldo, que se encontram e desencontram pelos caminhos da vida.
Esse saber que vem da escola e que dá diploma é considerado superior e essa sabença que vem da enxada, da fábrica, do trabalho braçal, é visto como saber de segunda categoria, até mesmo como ignorância.
Lembrei de Paulo Freire que dizia que a função do intelectual é recolher do povo essa sabedoria cotidiana, que não se aprende na escola, e devolver problematizada para o mesmo.
E lembrei de Jesus, na sinagoga onde crescera, na aldeia de Nazaré, comentando texto escrito, saber escolar, a partir de suas percepções próprias. “De onde vem a sabedoria desse carpinteiro?” – perguntavam. A resposta poderia ser simplesmente essa: – “Da carpintaria”.
Há saberes que somente podem ser encontrados nas carpintarias da vida, distantes das lições oficiais. Os estóicos falavam de uma racionalidade divina presente no universo e podemos admitir que há um saber divino e humano espalhado pelos caminhos da vida.
Mas a frase de Seu Dolivaldo nos traz mais coisas. O que significa crescer na vida? Trocar cangalha por sela?
A sabedoria do povo e o saber escolar perdem o sentido se não libertam o ser humano. Saber e poder andam juntos e todo o sistema educacional pode ser usado para escravizar, para transformar pessoas em burros de carga, ou elegantes montarias das elites dominantes.
A empáfia de Flauribento pode ser uma triste maneira de esconder uma vida de cabresto, sela e espora, obrigando-o a percorrer caminhos que não escolheu e a desembestar pela vida e pela Vila, montaria de um sistema escravizador.
Ser educado, portanto, não significa mera sofisticação de apetrechos de dominação, mas o aprendizado de ser mais humano, pronto para o amor e para o trabalho, enquanto serviço à vida e à humanidade, mas sem cangalhas ou selas.
Pr. Marcos, por incrível que pareça, tenho pensado sobre isso. Ao ler seu texto, lembrei imediatamente do Patativa do Assaré, estou lendo um pouco sobre a sua vida e sua poesia social. Tenho me encantado com a sabedoria deste homem e a coragem de denunciar através da poesia o sofrimento do povo sertanejo. Ele prefere não fazer parte de uma sistema que engesse sua humanidade, para dar sentido a sua poesia e utilizá-la como instrumento de libertação.
ResponderExcluirMarcos, como sempre seus textos tem me provocado e desafiado.
bjs no coração!
Gal, obrigado por sua sensibilidade e seu modo de ser...
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