terça-feira, 10 de agosto de 2010

Caminhos e descaminhos do infinito




Gn 3

Esse capítulo completa a narrativa sobre a utopia perdida no passado que pode ser reencontrada no futuro. O mundo da beleza em que Deus passeia e conversa com o homem e a mulher, é o mundo desejável, a ser reconstruído por labor humano e graciosidade divina.

Os textos se apresentam em ambigüidades deliciosas. A serpente é portadora de uma sabedoria estranha, mas verdadeira (a serpente tem razão, no texto); o homem e a mulher se amam intensamente mas são devorados por esse amor; o conhecimento do bem e do mal, o legado ético, pode ser mortal; não vale a pena ser como Deus e somente os animais suportam o paraíso (no dizer irônico de Hegel).

O projeto de amor humano, o caminho do desejo, fortalece homem e mulher, para o bem e para o mal. Aprendendo a desejar no corpo do amado e da amada, estendem os desejos até o infinito e querem ser como Deus.

Mas o caminho da divinização não é caminho humano. Parece até que Deus não se sente confortável na infinitude e cria o ser gracioso, o ser imperfeito. A graça do homem é a contingência, a provisoriedade, a finitude, os limites.

Todo o universo estremece quando o homem caminha para a divinização e se torna legislador ético. A terra produz espinhos para defender suas flores, a tarefa de criar sentido através do trabalho fica extenuante, parir a humanidade torna-se doloroso e é preciso defender a vida com a espada do anjo exterminador.

O projeto da infinita significação é projeto de falência, e o homem e a mulher precisam aprender a reconquistar a utopia originária, a beleza e o prazer do insignificante.

5 comentários:

  1. Se sofremos tanto querendo ser divinos, então porque não aceitamos a condição de humanos? Se é tão bela a finitude, se tão prazerosa a humanidade e tão graciosa a imperfeição, porque desejamos viver para sempre, porque o prazer é tão condenado, e porque temos um inconsciente coletivo, a sociedade e toda a construção ortodxa cristã em nossa mente nos punindo por nossas imperfeições?
    Porque a psiqué humana não age de forma a aceitar nossa condição finitia e imperfeita de seres humanos??? Nunca entenderemos que há beleza e prazer no insignificante. É preciso ser correto e dar respostas corretas. É preciso justificar as ações... E se elas forem finitas, humanas e imperfeitas... são condenadas!
    Seu texto é muito belo!!! Mas infelizmente não acredito que a humanidade vá viver isso algum dia! Talvez por isso mesmo é que vc é profeta de margem... Pra dizer o que é preciso, mas não necessariamente que vá se cumprir...
    Um beijo grande!

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  2. Meu guru e grande parceiro nesse difícil caminho do descaminho. Nessa jornada rumo ao reencontro com a condição da qual fugimos há tanto tempo: Humanos, simplesmente. Te sigo no blog e na vida !!!

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  3. Anísia e Bruno, parceiros na busca impossível da insignificância... Um dia, quem sabe, chegaremos juntos por lá... e vamos sorrir de um bocado de bobagens, em meio a olhares invejosos de fraque e cartola... Quem sabe, um dia... Beijos e abraços... essas deliciosas insignificâncias

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  4. E se essa linda imagem for mesmo um nunca-lugar à humanidade (concordo com Anísia), fiz dela meu-lugar, a despeito. Imagem de contingência, provisoriedade e finitude. Lugar de limites, da beleza originária e de insignificâncias. Obrigado, meu amigo, pelas imagens que formam o lugar pronde estou indo.

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  5. Meu Deus!! Eu me sinto uma louca que vê mas não enxerga, que conhece mas não sente, que quer mas não vive... Me sinto um produto esquizofrênico da sociedade e da liberdade. E não sou nem um nem outro! O que eu sou mesmo? Quem eu sou mesmo? Pra onde estou indo mesmo? Quem são vocês loucos que vêem o invisível e vão para onde não há e vivem o que não existe???!!!!
    Loucos!!! Cada a um à sua maneira... Mas tod@s loucos!!!

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