sexta-feira, 30 de julho de 2010

Tudo em família


Marcos Monteiro*

Aproximar-se dos tempos das eleições é se aproximar da recorrência de sobrenomes se candidatando a cargos eletivos em todo o país. Desde as eleições municipais às federais, os mesmos sobrenomes se distribuem, transformando a questão eleitoral brasileira em questão familiar.


Aparício Torelly, o famoso Barão de Itararé, dizia nos inícios do século XX que o grande problema do político brasileiro era “fazer de sua vida pública uma extensão da privada”. Se alguma coisa mudou, teria sido que essa contaminação indevida transformou a política do país em um grande negócio e negócio de família.


Os mesmos sobrenomes vão garantindo gradativamente espaço na gestão e legislação públicas, estendendo-se aos subseqüentes escalões, em um processo que a palavra “nepotismo” nem consegue alcançar. Obviamente, todo um aparato e todo um sistema balança tendenciosamente para o lado de interesses no mínimo suspeitos.


Impérios familiares, economicamente lucrativos e politicamente corrompidos, estendem seus tentáculos sobre setores diversos da vida do país, pressionando a estabilidade e consistência das instituições. A democracia representativa tende assim a representar uma minoria, cuja postura seria claramente insuficiente e inadequada para a construção de procedimentos e relações eticamente responsáveis.


Discursos coloquiais são perfeitamente adequados, dessa maneira, e afirmações de que “somos uma mesma família”, deixa de ser metáfora. Grandes patriarcas políticos vão constituindo seus herdeiros, repartindo sua influência política, como quem divide os seus bens, sem a necessidade de um documento testamental. Na sua morte, esposa, filhos, sobrinhos e netos dividem esse espólio, do melhor modo possível.


Nesse cenário, os partidos políticos são quase supérfluos, e o jogo político se transforma em “conversa de compadres”. Não é à toa que desapareça a credibilidade da população e se espere sempre que no congresso nacional, tudo sempre termine em pizza, tamanho família.

Feira de Santana, 30 de julho de 2010.

*Marcos Monteiro é assessor de pesquisa do CEPESC. Mestre em Filosofia, faz parte do colégio pastoral da Comunidade de Jesus em Feira de Santana, BA. Também é coordenador do Portal da Vida e faz parte das diretorias do Centro de Ética Social Martin Luther King e da Fraternidade Teológica Latino-Americana do Brasil
CEPESC – Centro de Pesquisa, Estudos e Serviço Cristão. E-mail cepesc@bol.com.br
Fone: (71) 3266-0055. Veja esse texto também nos blogs www.informativo-portal.blogspot.com e http://www.madoniram.blogspot.com/

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