sábado, 31 de julho de 2010

AS VANTAGENS DA EDUCAÇÃO

Gostar de ser professor é admitir as vantagens do nosso sistema atual de ensino. Não gosto dos particípios passados fixistas, dogmáticos, voltados para o passado como um epitáfio, por isso usarei o gerúndio aberto e dirigido para infinitas possibilidades. Estou me realizando plenamente como professor.

O primeiro objetivo do professor é lutar para que os alunos o superem, o que normalmente eu consigo na segunda ou terceira aula. O restante do semestre passamos fingindo. Eu fingindo que sei mais do que eles e eles fingindo amavelmente que sabem menos do que eu.

Na verdade, essa imensa capacidade de ser facilmente superado, eu desenvolvi já como pai. Todo filho tem como máximo objetivo de vida superar o pai e é por isso que admiro intensamente o meu filho. Tendo me superado amplamente aos sete anos de idade, continuou vivendo e inventando outras razões mais complexas para viver.

Depois das primeiras aulas, passo o resto do semestre também tentando loucamente acompanhar alunos, intensificando plano de leituras, fazendo resumos, fichas de livros e revistas, pesquisando esdrúxulos sites noturnos, e descobrindo que se, no mundo eleata de Zenão, Aquiles nunca alcança a tartaruga, no mundo real da educação, o professor-tartaruga jamais poderá alcançar o aluno-Aquiles.

Aliás, sou muito grato aos meus alunos por nunca passarem uma prova com cinco questões, por exemplo, para responder em classe, como método de avaliação. Questões eles levantam na sala de aula e eles mesmos respondem, depois do meu constrangedor silêncio de perplexidade.

Guardadas as devidas proporções, sinto-me como o Deus da definição de Viktor Frank, “o interlocutor dos melhores diálogos que exercito comigo mesmo”. Diferente desse Deus que proporciona plenitude e incursões abissais na subjetividade, sou, na sala de aula, o inútil e aparvalhado interlocutor dos animados debates que os alunos travam entre si.

Nesse ínterim, torna-se essencial o conhecimento que os alunos têm de Paulo Freire. Tornam-se para mim os complacentes educadores-educandos que investem no crescimento desse educando-deseducado-desecaducando-destemperacaducoeducando que gentilmente chamam de professor. Tenho certeza de que só não investem comigo na defenestrada educação bancária, tão criticada por Freire, por duvidarem de encontrar em meu cérebro banco ou conta para depositarem conhecimentos.

Por essa conjunção de fatores, a sala de aula torna-se o meu lugar diário de refrigério, a minha sessão de terapia, o meu remédio contra qualquer tipo de doença, a minha fonte de diversão cotidiana. Encontrei no ensino o meu ócio criativo, essa mistura de trabalho, jogo e diversão que Domenico De Masi propugna. Na sala de aula, sou responsável pelo ócio e os alunos pela criatividade.

Encontro tanto prazer e realização no ato de ensinar que o faria de graça e até pagaria para fazer. Pena que os dirigentes públicos e privados da educação do país já descobriram isso.

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