Marcos
Monteiro
A morte de Jesus
foi uma grande justiça. Para o poder romano era um sedicioso, e para o poder
judaico um herege blasfemador, e a sua cruz não foi a única. Ele a mereceu,
como mereceria Barrabás e como mereceu Espártaco e seus seis mil companheiros
escravos, crucificados muitos anos antes em Roma, em plena Via Ápia.
Injusta foi a
ressurreição. Se era para ressuscitar alguém, Deus desrespeitou critérios
políticos, econômicos e religiosos, dando nova vida a um aldeão carpinteiro,
subvertendo méritos e garantias de qualquer tipo de legislação. A ressurreição,
então, é a injustiça de Deus que subverte toda a justiça humana.
A vida é o maior
dos mistérios do universo. Ela simplesmente acontece, de tantas maneiras
inesperadas, em exuberância e diversidade, um encantador desperdício que
contraria qualquer lógica. A morte não é misteriosa. Tem a banalidade do previsível e a lógica
fria da tragédia, única certeza na incerteza da vida.
No relato do evangelho
de Marcos, na cruz, Jesus dá um grande grito no momento de sua morte, último
brado de revolta contra todas as justiças humanas (Mc 15,37). A injustiça da
ressurreição transforma esse grito em urro de vitória, momento de subversão de
todas as lógicas, critérios e legislações humanas, plena vitória da incerta
vida contra a tão certa e arrogante morte.
A injustiça da
ressurreição cria um desequilíbrio cósmico que afeta as estruturas e relações
humanas e as certezas e incertezas, os afetos e desafetos, as expectativas
otimistas ou pessimistas, vão timidamente compreendendo o que é fé, amor ou
esperança.
O ressuscitado vai
marcando encontro com o cotidiano dos amigos, no sepulcro, nos caminhos, à
beira mar, trazendo nova vida às suas vidas. E continua marcando encontro,
mesmo depois da ascensão, como aquele que transforma a justiça sanguinária de
Paulo em arauto da injustiça da ressurreição. Acho bonito o texto em que ele
exclama:
“Quando, porém, o que é corruptível
se revestir de incorruptibilidade, e o que é mortal, de imortalidade, então se
cumprirá a palavra que está escrita: "A morte foi destruída pela
vitória". 1Co 15,54.
Celebramos hoje a
injustiça da ressurreição que destruiu a morte. Então, diante das nossas mortes
de cada dia, grandes ou pequenas, vamos viver intensamente a incerteza da vida
e subverter a lógica das justiças do poder, pelo delírio do amor.
Quando me deparo com um modo de observação tão inusitado, como o abordado nesse texto, percebo o quanto ainda temos que refletir e praticar. Excelente abordagem.
ResponderExcluirVocê consegue dizer o indizível.
ResponderExcluirBom encontrar na madrugada algo tão claro e simplificado sobre o fenômeno dos fenômenos... Daqui da tábua da beirada, é confortável saber destas certezas. Me sinto justificada e bem pertinho de Deus. Obrigada pela clareza, que se traduz para mim como certeza. Abraços companheiro! Você é o cara!
ResponderExcluirGrata Marcos,por me proporcionar uma reflexão tão profunda!! Xerus 😘
ResponderExcluirForte provocação
ResponderExcluirQue maravilha! Demos graças a Deus!
ResponderExcluirPerfeito!
ResponderExcluirNão é uma injustiça. É só um desaforo.
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