idança |
O ser humano é um conjunto de
textos embrulhado em peles. Pele é limiar entre um texto interno e textos
externos, lugar em que as palavras brincam e causam arrepios.
Os textos que respiramos enchem o
nosso pulmão de vida e fazem as palavras correr pelas veias até encherem o
coração. No coração, as frases vão e vêm em ritmos irregulares, sístoles e
diástoles de nossa existência.
Os seres humanos são textos que
não subsistem sozinhos, sobrevivem em períodos subordinados ou coordenados
sempre de modo assindético. Todo texto toca outro texto, todo abrigo é abrigo
de textos, todo caminho é textual.
Quando Deus criou os textos lhes
cobriu de pelos e lhes chamou homem; quando a mulher criou Deus lhe arrancou a
pele e lhe chamou texto; quando o texto criou a mulher e o homem lhes distendeu
a pele e lhes chamou paixão.
Todo texto desce pela boca como
beijo e chega no estômago como fome. O metabolismo de um texto é texto
inquieto. A indigestão de um texto é texto à procura das próprias linhas e das
linhas impróprias.
Um texto pós-pandrial resvala
pelo organismo; toda disfunção do corpo é gramatical e toda verborreia é
resultado de intoxicação linguística. Quando aumenta a temperatura textual e o
corpo fica febril é necessário suar textos por todos os poros e derramar textos
pelos cotovelos; e jogar textos fora, como quem conversa.
Os caminhos da vida são caminhos
dos textos. Vamos pisando os textos sob a sola dos pés e irrequietos levamos
textos à flor da pele. Nossas passadas seguem os ritmos dos textos, que nos
apressam ou nos paralisam, e os textos nos acolhem em suas casas.
Seremos textos cobertos de peles
por toda a vida e quando morrermos seremos epitáfio: um texto cercado de
pedras.
Como Deus é verbo, também nós o somos, cobertos de pele, pelos e carregados de sentimento e sentido. Texto incrível, não deixe de nos brindar com suas reflexões.
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