terça-feira, 12 de maio de 2015

A GRANDE INVENÇÃO


Naquele tempo a gente sentava na Praça do Derby, aquela do peixe-boi, e conversávamos, eu e Josinha, sobre tudo e sobre todos, especialmente sobre namoro. Ela namorava um amigo e eu uma amiga e a gente, no final das contas, tinha mais tempo para conversar sobre namorados do que para namorar.

Tínhamos praticamente a mesma idade, ela dezesseis e eu vinte e cinco, embora tivesse a sensação de que ela era mais madura do que eu. Hoje, tenho certeza. Ela se tornou uma senhora respeitável, funcionária pública que funciona, e eu continuo adolescente, porque adolescência, lembro bem das aulas dos cursinhos, era essa idade indefinida entre a infância e a maturidade.

Era meio dia e ela vinha do cursinho e os americanos ainda não tinham destruído a camada de ozônio para vender protetor solar. Porque os americanos são assim, primeiro inventaram o protetor solar e depois aumentaram a temperatura do sol para vender.

Como fizeram? Produzindo milhões de obesos que liberavam toneladas de gases na atmosfera. Depois começaram uma campanha contra a obesidade para vender adoçantes com aspartame que tinham acabado de inventar.

Os americanos gostam de inventar e de vender. Inventaram o turismo e destruíram Hiroxima para vender passagens de avião para visitar monumentos às vítimas. Inventaram a bomba atômica e depois de ter vendido energia nuclear para o mundo todo promoveram a campanha pelo desarmamento para vender músicas de rock. Invadiram Cuba e a invasão não deu certo, mas conseguiram vender camisas de Che Guevara.

Todo mundo gosta de inventar. Os franceses inventaram o positivismo, os americanos o behaviorismo e os brasileiros inventaram o vestibular e os cursinhos para estudar as invenções dos outros.

Pois bem, Josinha vinha do Radier, um cursinho pré-vestibular, desses em que atores e humoristas eram contratados para dar aulas, e depois de decorar sobre adenina, citosina, guanina e timina, e de repetir que a lei da gravidade tinha sido descoberta por Isaac Newton, vinha conversar comigo na praça e depois ia lá pra casa almoçar.

Adenina, citosina, guanina e timina ninguém lembra para que serve, mas todo mundo lembra da musiquinha, e a lei da gravidade é muito, muito grave, responsável pela queda da Bastilha, das bombas de Hiroxima  e do Muro de Berlim. Os americanos derrubaram o muro de Berlim para vender os pedacinhos como souvenir, mas isso foi bem depois.

Eu e Josinha também gostávamos muito de inventar e inventávamos invenções sobre os outros e as outras. E inventávamos reuniões na sua casa. A casa de Josinha era lugar de inventar estudos bíblicos e de inventar conversas e de inventar jogos para Eveline ganhar. E inventamos de convidar Bambam para contar os episódios sobre o Agente Oitenta e Seis, aquele seriado sobre um agente secreto atrapalhado que os Estados Unidos vendiam para todas as televisões do mundo depois de inventar a CIA.

E inventamos uma variedade de gargalhadas. Porque todo mundo gosta de inventar e os americanos inventam de tudo para tudo vender. Mas talvez a maior de todas as invenções que conheço seja Josinha que, aliás, ninguém inventou. Ela se inventou.


2 comentários:

  1. Deviam inventar algo parecido com "curtir" para os blogs, gratuito, claro!

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  2. Que bom que você voltou Marcos, uma das melhores invenções do Pai. Abraço querido amigo.

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