Naquele tempo a gente sentava na
Praça do Derby, aquela do peixe-boi, e conversávamos, eu e Josinha, sobre tudo
e sobre todos, especialmente sobre namoro. Ela namorava um amigo e eu uma amiga
e a gente, no final das contas, tinha mais tempo para conversar sobre namorados
do que para namorar.
Tínhamos praticamente a mesma
idade, ela dezesseis e eu vinte e cinco, embora tivesse a sensação de que ela
era mais madura do que eu. Hoje, tenho certeza. Ela se tornou uma senhora
respeitável, funcionária pública que funciona, e eu continuo adolescente,
porque adolescência, lembro bem das aulas dos cursinhos, era essa idade
indefinida entre a infância e a maturidade.
Era meio dia e ela vinha do
cursinho e os americanos ainda não tinham destruído a camada de ozônio para
vender protetor solar. Porque os americanos são assim, primeiro inventaram o
protetor solar e depois aumentaram a temperatura do sol para vender.
Como fizeram? Produzindo milhões
de obesos que liberavam toneladas de gases na atmosfera. Depois começaram uma
campanha contra a obesidade para vender adoçantes com aspartame que tinham
acabado de inventar.
Os americanos gostam de inventar
e de vender. Inventaram o turismo e destruíram Hiroxima para vender passagens de
avião para visitar monumentos às vítimas. Inventaram a bomba atômica e depois
de ter vendido energia nuclear para o mundo todo promoveram a campanha pelo
desarmamento para vender músicas de rock. Invadiram Cuba e a invasão não deu
certo, mas conseguiram vender camisas de Che Guevara.
Todo mundo gosta de inventar. Os
franceses inventaram o positivismo, os americanos o behaviorismo e os
brasileiros inventaram o vestibular e os cursinhos para estudar as invenções
dos outros.
Pois bem, Josinha vinha do Radier,
um cursinho pré-vestibular, desses em que atores e humoristas eram contratados
para dar aulas, e depois de decorar sobre adenina, citosina, guanina e timina,
e de repetir que a lei da gravidade tinha sido descoberta por Isaac Newton,
vinha conversar comigo na praça e depois ia lá pra casa almoçar.
Adenina, citosina, guanina e
timina ninguém lembra para que serve, mas todo mundo lembra da musiquinha, e a
lei da gravidade é muito, muito grave, responsável pela queda da Bastilha, das
bombas de Hiroxima e do Muro de Berlim.
Os americanos derrubaram o muro de Berlim para vender os pedacinhos como
souvenir, mas isso foi bem depois.
Eu e Josinha também gostávamos
muito de inventar e inventávamos invenções sobre os outros e as outras. E
inventávamos reuniões na sua casa. A casa de Josinha era lugar de inventar
estudos bíblicos e de inventar conversas e de inventar jogos para Eveline
ganhar. E inventamos de convidar Bambam para contar os episódios sobre o Agente
Oitenta e Seis, aquele seriado sobre um agente secreto atrapalhado que os
Estados Unidos vendiam para todas as televisões do mundo depois de inventar a
CIA.
E inventamos uma variedade de
gargalhadas. Porque todo mundo gosta de inventar e os americanos inventam de
tudo para tudo vender. Mas talvez a maior de todas as invenções que conheço
seja Josinha que, aliás, ninguém inventou. Ela se inventou.
Deviam inventar algo parecido com "curtir" para os blogs, gratuito, claro!
ResponderExcluirQue bom que você voltou Marcos, uma das melhores invenções do Pai. Abraço querido amigo.
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