Há coisas que não mais soem
acontecer. Ninguém mais age subrepticiamente e a humanidade desaprendeu a
acepção de ficar macambúzia ou exultante, sorumbática ou jubilosa. O truísmo
domina a linguagem e os algozes da flor do Lácio fazem da vulgaridade do
linguajar quotidiano a sua vaidosa prosopopéia e o seu vocabular mais
escorreito.
Outrora, havia quem se
abespinhava com a asserção descurada, com o argumento peremptório ou com a
asseveração abruptamente infundada. Porque além do espectro vocabular a lógica
da proposição e o valor intrínseco da sintaxe eram igualmente observados.
Haverá hoje algures quem se agaste com vocabulário trivial, ou falácias ou
solecismos?
A tirania hodierna da parvalhice
tem achincalhado os cultores da língua de antanho, atoleimando-os,
atribuindo-lhes uma parvulez somente explicável por mecanismos de projeção
especular. Desabonar uma conduta laudável de modo ostensório é amolgar a
ventura abolando a pulcritude.
Evidentemente, na interlocução
coloquial não há espaço para o preciosismo; o vocabulário comezinho é a
injunção da intimidade. Entrementes, transportar para quaisquer alocuções a
verbiagem cotidiana, postergando preceitos sancionados pelo costume, é pousar
de publícola, assumir escusa postura demagógica.
Se o garbo e o donaire são
requisitados em seletos sítios, se o requinte e o apuro serão sempre reputados
signos de distinção, se a gastronomia exige da comensalidade as iguarias e os
acepipes, a língua infunde misteres e encargos ineludíveis. Careceremos sempre
de ornar o discurso com os vocábulos da distinção, refinar as orações com a
sintaxe apropriada, locupletar as proposições com olores e sabores que
transfigurem o mais insípido dos temas em sápido sobrepasto.
A busca da excelsitude
lingüística tem sido inopinadamente interpretada como veleidade, amaneiramento
ou ardil para a arte da tergiversação. Obliquamente, o que realmente se propõe
é a implosão da língua pela desabrida redução do universo vocabular. Não tendo
o ensejo, impedido pelos críticos de degustar sabores mais sofisticados,
limitar-nos-emos na linguagem a provar todos os dias o ipsíssimo faséolo vulgar
com orizo.
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