terça-feira, 5 de novembro de 2013

Aprimorando a linguagem: ou beimaô (que diabo é isso, macho, ôxe!)


Há coisas que não mais soem acontecer. Ninguém mais age subrepticiamente e a humanidade desaprendeu a acepção de ficar macambúzia ou exultante, sorumbática ou jubilosa. O truísmo domina a linguagem e os algozes da flor do Lácio fazem da vulgaridade do linguajar quotidiano a sua vaidosa prosopopéia e o seu vocabular mais escorreito.

Outrora, havia quem se abespinhava com a asserção descurada, com o argumento peremptório ou com a asseveração abruptamente infundada. Porque além do espectro vocabular a lógica da proposição e o valor intrínseco da sintaxe eram igualmente observados. Haverá hoje algures quem se agaste com vocabulário trivial, ou falácias ou solecismos?

A tirania hodierna da parvalhice tem achincalhado os cultores da língua de antanho, atoleimando-os, atribuindo-lhes uma parvulez somente explicável por mecanismos de projeção especular. Desabonar uma conduta laudável de modo ostensório é amolgar a ventura abolando a pulcritude.

Evidentemente, na interlocução coloquial não há espaço para o preciosismo; o vocabulário comezinho é a injunção da intimidade. Entrementes, transportar para quaisquer alocuções a verbiagem cotidiana, postergando preceitos sancionados pelo costume, é pousar de publícola, assumir escusa postura demagógica.

Se o garbo e o donaire são requisitados em seletos sítios, se o requinte e o apuro serão sempre reputados signos de distinção, se a gastronomia exige da comensalidade as iguarias e os acepipes, a língua infunde misteres e encargos ineludíveis. Careceremos sempre de ornar o discurso com os vocábulos da distinção, refinar as orações com a sintaxe apropriada, locupletar as proposições com olores e sabores que transfigurem o mais insípido dos temas em sápido sobrepasto.

A busca da excelsitude lingüística tem sido inopinadamente interpretada como veleidade, amaneiramento ou ardil para a arte da tergiversação. Obliquamente, o que realmente se propõe é a implosão da língua pela desabrida redução do universo vocabular. Não tendo o ensejo, impedido pelos críticos de degustar sabores mais sofisticados, limitar-nos-emos na linguagem a provar todos os dias o ipsíssimo faséolo vulgar com orizo.


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