segunda-feira, 21 de outubro de 2013

A PALAVRA PROFÉTICA E AS SITUAÇÕES DE CRISE - I REIS 20 ( III )



Quando a palavra profética é libertadora
até mesmo para um sujeito infiel como Acabe.

Até aqui tudo se passara dentro do costume internacional das relações entre países. A história preparava-se para se desenrolar dentro do campo do rotineiro, do previsível, e os prognósticos eram os piores possíveis. Surge então a esquisita e imprevisível figura do profeta, acrescentando um elemento radicalmente novo ao desenvolvimento da disputa.

O profeta traz novas palavras, novas previsões, e novos significados à situação de crise. É palavra abençoadora, aprazível palavra para a angústia de Acabe. Se a crise é democrática, mais democrática ainda é a palavra profética que abençoa até mesmo o infiel Acabe. 

A palavra profética muda a direção e o significado da guerra. A guerra torna-se emblemática e educativa. Javé pretende, a partir dessa específica batalha, demonstrar mais uma vez que é o único Senhor. Nem Acabe, nem Ben-Hadad, nem os deuses de Damasco, são senhores, mas Javé. A crise é a oportunidade de conversão do infiel Acabe.

E eis que um profeta, chegando-se a Acabe, rei de Israel, lhe disse:
Assim diz o Senhor: Viste toda esta grande multidão? 
eis que hoje ta entregarei nas mãos, e saberás que eu sou o Senhor (v. 13). 

Nas inesperadas relações amistosas estabelecidas com os profetas, Acabe pede até detalhes, estratégias e táticas de combate, em uma inesperada e completa submissão. A palavra profética não lhe falha: desenha a tática de combate e lhe instrui sobre os próximos movimentos a serem realizados.

O resultado é que o confiante Ben-Hadad, tão confiante que se embriagava nas tendas com os seus trinta e dois reis, sofre fragorosa e inesperada derrota. Derrotado pela palavra profética, pelo juízo de Deus que descia subitamente sobre a sua vaidade e prepotência. 

Saíram, pois, da cidade os moços dos chefes das províncias,
e o exército que os seguia. E eles mataram cada um o seu adversário. 
Então os sírios fugiram, e Israel os perseguiu; mas Bene-Hadade, 
rei da Síria, escapou a cavalo, com alguns cavaleiros. 
E saindo o rei de Israel, destruiu os cavalos e os carros,
e infligiu aos sírios grande derrota (v. 19 -21).


Quando a palavra profética mantém
o estado de vigilância e garante a vitória total.

Instaurada com a vitória a euforia nacional, é o profeta quem mantém a serenidade e garante o estado de vigilância.  Raramente, as crises se resolvem em uma única batalha e,  por causa disso,  as tarefas não acabam com a primeira vitória. A palavra profética tem esse caráter de se antecipar às situações para não se deixar apanhar despreparado.

Então o profeta chegou-se ao rei de Israel e lhe disse:
Vai, fortalece-te; atenta bem para o que hás de fazer;
porque decorrido um ano, o rei da Síria subirá contra ti (v. 22).

A estranha derrota de Ben-Hadad  clama por explicações do lado sírio e os conselheiros preparam as suas palavras para entender o acontecimento. A guerra torna-se, então, uma guerra de significados e, inevitavelmente, uma controvérsia teológica. Para a época, toda batalha era, ao mesmo tempo, uma batalha entre deuses e alguma coisa acontecera que não deixara os deuses da Síria muito confortáveis.
 
Os servos do rei da Síria lhe disseram: Seus deuses são deuses
dos montes, por isso eles foram mais fortes do que nós; 
mas pelejemos com eles na planície, e por certo prevaleceremos
contra eles. (v. 23).

Resolvida a questão teológica,  refeito o exército,  reformulada a estratégia de combate,  um Ben-Hadad muito mais atento dispõe a sua multidão de guerreiros que enchiam a terra,  contra o pequenino rebanho de cabras dos guerreiros de Israel.  Novamente,  a palavra profética intervém decidida a provar que a questão teológica não estava resolvida e a demonstrar que Javé é Deus de toda a terra,  dos vales,  das montanhas e das planícies.

Transformada em questão de honra de Javé, a guerra torna-se em contundente destruição do exército sírio.  Cem mil homens mortos no campo de batalha, vinte e sete mil restantes esmagados pela queda dos muros de Afeque e um Ben-Hadad escondido em um quarto interior da cidade, descrevem os destroços de um poder julgado pelo poder de Deus.

A crise terminara. A palavra profética cumprira o seu ciclo educativo. Javé demonstrara o seu poder absoluto sobre as pretensões da história, libertara Acabe e a nação israelita e julgara a nação insolente e opressora. As próximas etapas do texto, tratarão das surpreendentes consequências desses episódio para a vida de Acabe e do povo de Israel.  



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