almofariz |
A linguagem me acordou cedinho e
começou a arrodear o meu umbigo, fazendo cócegas.
Quando tentou se atrever a um
movimento mais ousado, afastei-a delicadamente e recuou amuada e recomeçou seus
jeitos e trejeitos de mimosa e mimada, de arrulhos e beicinhos, vindo e
negaceando, dengando.
Sussurrou carinhos e de repente
se fez fúria e baixo calão, improperando para todos os lados e gargalhando-se
sinistramente, depois.
E então me desarmou com um
sorriso rasgante, puro e tagarela, e me desnudei e aguardei ansioso e invadiu o
meu ouvido com a língua.
Ciciante recitou poesias e
indecente desfilou propostas e percorreu meu corpo aos gritos e silêncioso e
trêmulo mal me atrevia a atrever.
Explodimos os dois ou me iludiu
faceira? Acontecemos ou somente aconteci inexperiente e perplexo?
As margens são aconchegantes
depois das ondas e marés e há tantos tipos de abraços.
Colados e sonolentos deixamos
passar o tempo e os significados, entreolhando, entreouvindo e entrefalando,
preguiçosos e felizes.
Então voltamos caminhantes de
linhas e entrelinhas, a dar voltas e a interromper-se, dizendo-se e se
desdizendo, finalizando-se de vagar.
A sedução das palavras é sempre tentadora e temos que seguir os traços e mergulhar nas entrelinhas
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