terça-feira, 24 de setembro de 2013

Pelo amor das linhas

almofariz

A linguagem me acordou cedinho e começou a arrodear o meu umbigo, fazendo cócegas.
           
Quando tentou se atrever a um movimento mais ousado, afastei-a delicadamente e recuou amuada e recomeçou seus jeitos e trejeitos de mimosa e mimada, de arrulhos e beicinhos, vindo e negaceando, dengando.
           
Sussurrou carinhos e de repente se fez fúria e baixo calão, improperando para todos os lados e gargalhando-se sinistramente, depois.
           
E então me desarmou com um sorriso rasgante, puro e tagarela, e me desnudei e aguardei ansioso e invadiu o meu ouvido com a língua.
           
Ciciante recitou poesias e indecente desfilou propostas e percorreu meu corpo aos gritos e silêncioso e trêmulo mal me atrevia a atrever.
           
Explodimos os dois ou me iludiu faceira? Acontecemos ou somente aconteci inexperiente e perplexo?
           
As margens são aconchegantes depois das ondas e marés e há tantos tipos de abraços.
           
Colados e sonolentos deixamos passar o tempo e os significados, entreolhando, entreouvindo e entrefalando, preguiçosos e felizes.
           
Então voltamos caminhantes de linhas e entrelinhas, a dar voltas e a interromper-se, dizendo-se e se desdizendo, finalizando-se de vagar.

Um comentário:

  1. A sedução das palavras é sempre tentadora e temos que seguir os traços e mergulhar nas entrelinhas

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