Os caminhos de voltar: o acerto de contas com Labão
Gn 30, 24 – 32,2
O patriarca Jacó está prestes a
encerrar o seu tempo de aventuras em terras estranhas. Em uma contabilidade
complicada, alegrias e tristezas, vantagens e desvantagens, precisam ser
entendidas e computadas. Duas mulheres e onze filhos são uma considerável
riqueza, mas o restante pertence a Labão: ovelhas, cabras, terra, tudo.
Labão combina um salário
(primeiro salário em vinte anos) para Jacó ficar, e este faz desse salário sua
oportunidade de se tornar enfim um rico patriarca. O preço a pagar agora é a
inimizade da família das suas mulheres: seu sogro Labão e os filhos deste.
Nas caladas da noite, Jacó
empreende o caminho de volta: mais uma fuga na sua vida e Labão o persegue, mas
não lhe faz mal porque Javé aparece em sonhos e proíbe-lhe qualquer dano a seu amigo e sócio.
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“Então, ouvia Jacó os comentários
dos filhos de Labão, que diziam: Jacó se apossou de tudo o que era de nosso pai;
e do que era de nosso pai juntou ele toda esta riqueza. Jacó, por sua vez,
reparou que o rosto de Labão já não lhe era favorável, como anteriormente. E
disse Javé a Jacó: Torna à terra de teus pais, e à tua parentela; e eu serei
contigo”
(Gn 31, 1-3).
Enfim,
a bênção e ação de Javé torna Jacó uma pessoa rica e poderosa, mas isso
acontece através de uma série de truques: varas descascadas de álamo, de
aveleira e de plátano fazem as ovelhas e cabras produzirem ovelhas negras e
cabras salpicadas, listadas e malhadas. As narrativas populares são assim:
cheias de sortilégios e truques mágicos. Truques de Jacó e de Javé.
Finalmente,
depois de tanto tempo, Javé se dispõe a corrigir todos os sofrimentos causados
pela injustiça do esperto e poderoso Labão. Mas Labão não se conforma e sai ao
encalço de Jacó e dos bens que julgava seus.
O
discurso e a ação de Labão merecem um exame. O poderoso Labão e os seus filhos
achavam que Jacó procedera fraudulentamente. A ética tem geografia e
sociologia, e quase sempre é concebida a partir desses espaços. Quando a moral
é propriedade da instituição patriarcal, o estrangeiro, sem direito e sem
lugar, é penalizado.
Labão
admite que enriqueceu às custas do trabalho de Jacó, mas ao mesmo tempo trata o
mesmo como um ladrão de pessoas e de animais. A ação de Javé leva à conciliação
entre as partes. Um monte de pedras sela um pacto de paz, Labão beija filhas e
netos e volta para casa, enquanto Jacó segue caminho de volta.
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