Foto: Ueslei Marcelino/Reuters |
Marcos Monteiro*
Eu tinha certa desconfiança e
desconforto pela imensa popularidade do presidente Lula, em quem votei cinco
vezes, e achava que seu sucesso quase unânime merecia uma auditoria. Do mesmo
modo, a queda brusca da popularidade da presidenta Dilma merece uma
investigação. As pesquisas mostraram que a popularidade caiu vertiginosamente
também para outros gestores estaduais e municipais, aliás, para a maioria, mas
vale a pena enfocar “a questão Dilma”.
Todos sabíamos que o governo
Dilma seria a continuidade do governo Lula com poucas diferenças, do mesmo
jeito que o governo Lula foi a continuidade da gestão FHC com algumas
diferenças. Desse modo, um governo impopular que é a mera continuidade de um
governo muito popular deveria causar certo estranhamento, o que não parece vir
ocorrendo.
Luiz Inácio é dono de uma
simpatia pessoal e de uma imagem construída em um longo histórico de lutas e de
atitudes corajosas. Todos sabemos que Dilma não é tão simpática e seu histórico
é desconhecido. Apareceu para a política como uma coelhinha na cartola do
mágico Lula. Na gestão presidencial, o simpático Lula foi gerando em mim mesmo
uma grande antipatia, cada vez mais encabulado com esse distribuidor de
sorrisos em todas as direções. Não me parece nada estranho o esdrúxulo fato de
Collor, Sarney, e outras figuras exóticas de nosso passado histórico, caberem
confortavelmente na base governamental. São mais um número espetacular desse
espetacular ilusionista.
A imensa popularidade de Lula
impediu que medidas mais efetivas, como a reforma agrária, por exemplo, fossem
efetivadas e que certas investigações, como a das privatizações na gestão
anterior seguissem curso. Desse modo, a impopularidade de Dilma passa a ser até
esperançosa.
Faço parte do grupo de pessoas
que consideram a presidenta antipática. Mas, não confundo aparência pessoal com
gestão administrativa e desconfio que como gestora Dilma seja mais eficiente do
que Lula. Nenhuma simpatia pela relação entre a presidência e os movimentos
sociais. Relação tão inútil e danosa quanto antes. E nenhuma paixão por
programa desenvolvimentista, dentro de um quadro capitalista extremamente
detrator, em que um capital voraz avilta cada vez mais o trabalhador mais simples.
Votei em Dilma somente no segundo
turno e não acredito em nenhum dos seus sucessores mais cotados nem na volta
milagrosa do prestidigitador Lula. Ainda mantenho a esperança de um governo
mais humano, mesmo dentro da desumanidade do capitalismo, embora tenha muitas
dúvidas sobre tal possibilidade. Tal alternativa não parece pertencer a nenhuma
candidatura, das mais visíveis. Uma nova maneira de governar parece ser coisa
ainda muito embrionária.
As próximas eleições se aproximam
e há um grande assanhamento em torno disso. Como partidário, estarei lutando
pelo candidato do PSOL no primeiro turno. Se não disputarmos o segundo turno,
acho muito provável que votarei em Dilma, com um certo desencantamento, mas com
a certeza de que seus opositores não são melhores do que ela. Pode ser que a
base governamental não dispute a reeleição e o ilusionista Lula volte a se
candidatar. Nesse caso, se houver segundo turno, deverei votar nulo pela
primeira vez na vida.
*Marcos Monteiro é assessor de pesquisa
do CEPESC. Mestre em Filosofia, faz parte do colégio pastoral da Comunidade de
Jesus em Feira de Santana, BA e do grupo de pastores da Primeira Igreja Batista
em Bultrins, Olinda, PE. Também faz parte da diretoria da Aliança de Batistas
do Brasil e é membro da Fraternidade Teológica Latino-Americana do Brasil.
CEPESC – Centro de Pesquisa,
Estudos e Serviço Cristão. E-mail cepesc@bol.com.br, site www.cepesc.com.
Fone: (71) 3266-0055.
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