sexta-feira, 19 de julho de 2013

UMA IMPOPULARIDADE A SER INVESTIGADA

Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

Marcos Monteiro*

Eu tinha certa desconfiança e desconforto pela imensa popularidade do presidente Lula, em quem votei cinco vezes, e achava que seu sucesso quase unânime merecia uma auditoria. Do mesmo modo, a queda brusca da popularidade da presidenta Dilma merece uma investigação. As pesquisas mostraram que a popularidade caiu vertiginosamente também para outros gestores estaduais e municipais, aliás, para a maioria, mas vale a pena enfocar “a questão Dilma”.

Todos sabíamos que o governo Dilma seria a continuidade do governo Lula com poucas diferenças, do mesmo jeito que o governo Lula foi a continuidade da gestão FHC com algumas diferenças. Desse modo, um governo impopular que é a mera continuidade de um governo muito popular deveria causar certo estranhamento, o que não parece vir ocorrendo.

Luiz Inácio é dono de uma simpatia pessoal e de uma imagem construída em um longo histórico de lutas e de atitudes corajosas. Todos sabemos que Dilma não é tão simpática e seu histórico é desconhecido. Apareceu para a política como uma coelhinha na cartola do mágico Lula. Na gestão presidencial, o simpático Lula foi gerando em mim mesmo uma grande antipatia, cada vez mais encabulado com esse distribuidor de sorrisos em todas as direções. Não me parece nada estranho o esdrúxulo fato de Collor, Sarney, e outras figuras exóticas de nosso passado histórico, caberem confortavelmente na base governamental. São mais um número espetacular desse espetacular ilusionista.

A imensa popularidade de Lula impediu que medidas mais efetivas, como a reforma agrária, por exemplo, fossem efetivadas e que certas investigações, como a das privatizações na gestão anterior seguissem curso. Desse modo, a impopularidade de Dilma passa a ser até esperançosa.

Faço parte do grupo de pessoas que consideram a presidenta antipática. Mas, não confundo aparência pessoal com gestão administrativa e desconfio que como gestora Dilma seja mais eficiente do que Lula. Nenhuma simpatia pela relação entre a presidência e os movimentos sociais. Relação tão inútil e danosa quanto antes. E nenhuma paixão por programa desenvolvimentista, dentro de um quadro capitalista extremamente detrator, em que um capital voraz avilta cada vez mais o trabalhador mais simples.

Votei em Dilma somente no segundo turno e não acredito em nenhum dos seus sucessores mais cotados nem na volta milagrosa do prestidigitador Lula. Ainda mantenho a esperança de um governo mais humano, mesmo dentro da desumanidade do capitalismo, embora tenha muitas dúvidas sobre tal possibilidade. Tal alternativa não parece pertencer a nenhuma candidatura, das mais visíveis. Uma nova maneira de governar parece ser coisa ainda muito embrionária.

As próximas eleições se aproximam e há um grande assanhamento em torno disso. Como partidário, estarei lutando pelo candidato do PSOL no primeiro turno. Se não disputarmos o segundo turno, acho muito provável que votarei em Dilma, com um certo desencantamento, mas com a certeza de que seus opositores não são melhores do que ela. Pode ser que a base governamental não dispute a reeleição e o ilusionista Lula volte a se candidatar. Nesse caso, se houver segundo turno, deverei votar nulo pela primeira vez na vida.


*Marcos Monteiro é assessor de pesquisa do CEPESC. Mestre em Filosofia, faz parte do colégio pastoral da Comunidade de Jesus em Feira de Santana, BA e do grupo de pastores da Primeira Igreja Batista em Bultrins, Olinda, PE. Também faz parte da diretoria da Aliança de Batistas do Brasil e é membro da Fraternidade Teológica Latino-Americana do Brasil.
CEPESC – Centro de Pesquisa, Estudos e Serviço Cristão. E-mail cepesc@bol.com.br, site www.cepesc.com.
Fone: (71) 3266-0055.

Nenhum comentário:

Postar um comentário