segunda-feira, 22 de julho de 2013

AVENTURAS E DESVENTURAS DE JACÓ –V

Quanto vale o amor 
Gn 29, 1-30

O patriarca Jacó que funda a nação de Israel não seria exatamente um herói, mas um anti-herói, matreiro e astuto, que usa as armas dos menores para prevalecer.

Simpática personagem porque gostamos dessas figuras populares, cheias de truques, enfrentando a violência do direito com a força da artimanha. Não têm objetivos de mudar o mundo ou de reinventar a vida. Tudo que fazem é viver da melhor maneira possível.

Nesse episódio, pela primeira vez, nosso herói (ou melhor anti-herói) encontra um revés. Fraqueza de todos nós, ele se apaixona e se torna vulnerável.

Sofre de saída uma derrota monumental, no confronto com Labão, seu sogro e parente, são vinte e um anos de trabalho semi-escravo. Na luta pela vida, Jacó é vencido pelo amor.

 
Palavras de espírito e vida

“Mas Jacó amava mais a Raquel do que a Lia; e continuou servindo a Labão por outros sete anos” (Gn 29, 30b).

Toda a narrativa do capítulo 29 pode ser lida como um pequeno conto de amor. Um encontro no campo com a pastora de ovelhas Raquel e um entusiasmado peregrino se sente em casa.

Raquel seria exatamente a sua casa, a sua pátria, o lugar que deseja para recolher o seu corpo e para viver sua vida. Na sociedade que fizera com Javé não ficara bem claro o lugar do amor.

Javé parece ficar um tanto à parte e um tanto vigilante, somente intervindo em circunstâncias específicas.

Aparece então a figura de Labão que precisa ser bem definida diante da de Jacó. Labão também é ardiloso, mas representa o poderoso e instituído, cuja astúcia significa sempre o sofrimento do mais fraco.

No jogo contínuo das artimanhas, Javé vai jogar do lado de Jacó, não do lado de Labão, mas não é um interventor imediato, tem também as suas astúcias e isso significa administrar o tempo de modo a alcançar também seus próprios objetivos.

Jacó, apaixonado por Raquel, se oferece como trabalhador gratuito por sete anos e Labão aceita, dissimulando os seus planos que são ainda mais ambiciosos. Raquel será o salário de Jacó, prêmio maior, riqueza ambicionada acima de qualquer coisa.

Cumprido o prazo, terminada a festa, na obscuridade da tenda, Jacó recebe Lia, a irmã mais velha como mulher e só descobre que foi enganado no dia seguinte.

A narrativa tem as suas sutilezas e o texto diz que Lia tem os olhos belos, mas Raquel é bela de porte e de semblante, ou na linguagem comum de hoje, bela de rosto e de corpo.

Nas paixões que não conseguimos controlar, os caminhos da beleza. Jacó ama os olhos de Lia e ama toda a Raquel, rosto e corpo. Labão oferece novamente Raquel por mais sete anos de trabalho.

Jacó aceita e o texto diz que esse tempo lhe pareciam sete dias, pelo muito que a amava. Quando termina o prazo, Jacó recebe finalmente Raquel, mas resolve publicar a diferença nos amores. Porque amamos também por gradações e amamos diversas pessoas de modo diferente. E Jacó serve mais sete anos, voluntariamente, pelo amor a Raquel.

E assim termina esse momento da narrativa. Quanto vale o amor e que amor vale tanto? Para Jacó, Raquel era lugar, morada, pátria, salário, vida, tudo.

E Javé? Nesse momento parece estar distante, apenas observando divertido as artimanhas dos homens e a força do amor e da beleza das mulheres.

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