quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

POR CAMINHOS DE PEDRAS

Marcos Monteiro* 
Pastor Djalma Torres

Caminhar pelas pedras é coisa de criança subvertendo caminhos, ou coisa de alpinista a desejar penhascos, ou de gente teimosa que não deseja voltar, ou de idealistas que desdenham facilidades, ou de penitentes que pagam estranhas promessas. Caminhar pelas pedras é coisa de Djalma Torres, talvez uma mistura de tudo isso, de quem enfrenta desafios com muita firmeza e um pouco de ironia, para não tornar a vida pesada demais. 

Porque Djalma Torres me parece disposto a caminhar sempre por caminhos de pedras, a carregar pedras, até a levar pedradas, mas sem nunca perder o senso de humor. O rótulo de pastor pode ajudar a defini-lo, mas não a entendê-lo. Pastor que começa sermão com piada de Zelezim não se encontra sempre por aí. Ou pastor disposto a caminhar com excluídos, a acolher estranhas pessoas no modo de pensar ou no modo de agir, a acreditar no crescimento de muitos desacreditados, a defender as suas idéias publicamente e sem subterfúgios, mesmo quando não estejam na ordem do dia. 

Drummond transformou pedra no caminho em poema e José do Patrocínio pedradas em glória. Quando menino lia encantado: “com as pedras que jogaram sobre José do Patrocínio foi construído o seu pedestal”; e fico meditando o que Djalma fez com suas pedras e seus caminhos. 

Bem, transformou tudo em livro. O título? “Caminhos de Pedra”. Esse não é um livro como outro qualquer. Mas uma mistura de autobiografia, coletânea de pequenos textos, resumos de importantes palestras, de atos litúrgicos solenes e densos artigos reflexivos. Narrativas que acompanham a história do pastor Djalma Torres e, naturalmente, a conturbada história da igreja em momentos complexos vividos pelo país. 

As pedras vem de tudo isso, tanto como desafios no caminhar, quanto de ataques recebidos de quem não gosta de caminhos nem de caminhantes. Parte da igreja evangélica é ecumênica, mas isso não é uma postura fácil. Djalma como pastor de igreja evangélica optou por um ecumenismo prático, militante e oficial, em uma época mais difícil ainda, nos idos dos anos oitenta. 

Desse jeito, fez sempre o caminho inverso do desejado por todo pastor. Trocou pastorados de igrejas grandes por igrejas pequenas, de jovens idealistas e não conformados com o sistema. A Igreja Batista de Nazareth tem a marca de seu longo pastorado. Recentemente, começa a construir uma nova postura, com a Igreja Evangélica Antioquia, em que parte do que acredita pode ser vivido sem excesso de conflitos. 

Esse novo que menciono, não é tão novo. Crendo no diálogo inter-religioso e na ação de Deus em outras religiões, não somente a cristã, há muito tempo se relaciona com os religiosos de Candomblé, na cidade de Salvador. O respeito que adquiriu entre o “povo-de-santo” e outros setores religiosos, ou não religiosos, é admirável. 

Portanto, o livro “Caminho de Pedras” é documento histórico raro sobre situações, pessoas e opções incomuns. Nas entrelinhas do texto, os embates religiosos e as lutas históricas, as quais ainda acontecem hoje em dia. 

Nas páginas do livro há uma ausência: a sua paixão e relação com Canudos, a histórica cidade construída por beatos e peregrinos, sob a liderança de Antonio Conselheiro. Mas tudo isso virá no próximo, em que propõe a análise do fenômeno “Canudos” pela categoria de “utopia religiosa”, como gosta de defender. Aguardamos ansiosos essa segunda publicação, enquanto lemos satisfeitos a primeira. 

Feira de Santana, 23 de dezembro de 2011. 

*Marcos Monteiro é assessor de pesquisa do CEPESC. Mestre em Filosofia, faz parte do colégio pastoral da Comunidade de Jesus em Feira de Santana, BA. Também faz parte das diretorias do Centro de Ética Social Martin Luther King Jr. e da Fraternidade Teológica Latino-Americana do Brasil CEPESC – Centro de Pesquisa, Estudos e Serviço Cristão. E-mail cepesc@bol.com.br, site www.cepesc.com. Fone: (71) 3266-5526.

2 comentários:

  1. Fui uma das incentivadoras para que a tragetória de vida do pastor Djalma fosse registrada, uma pessoa corajosa e coerente com suas idéias e praticas. O livro merece ser lido.

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