sábado, 26 de fevereiro de 2011

Os adolescentes não sabem amar

Os adolescentes não sabem amar. Eles pensam que o amor é um sentimento e que é muito melhor sentir do que pensar.

Os adolescentes não sabem amar. Eles acham que o melhor dos mundos possíveis é o mundo impossível do amor e vivem mergulhados nesse mundo maior que o próprio mundo. Mundo onde cabem todos os mundos, mas que não cabe ninguém mais do que os dois.

Os adolescentes não sabem amar. Acreditam que o amor é absoluto e eterno e vivem absoluta e eternamente o amor. O amor ocupa-lhes todos os espaços e se estende em um tempo que é infinita duração, sem pausas, sem ritmos, sem interrupção.

Os adolescentes não sabem amar. Crêem que amor e felicidade são sinônimos. E sorriem o amor o tempo todo.

Os adolescentes não sabem amar. Sofrem a dor do amor como a única dor existente. Suas perdas profundas e irreparáveis lançam-nos na angústia lancinante, fundamental e inconsolável.

Os adolescentes não sabem amar. São capazes de tudo pelo amor, afrontam o universo pelo amor, enfrentam a Deus, pelo amor.

Os adolescentes não sabem amar. Amam pública e exuberantemente, desatentos a olhares e desligados de ditos. São a única platéia do seu próprio amor, as próprias regras de sua conduta inconseqüente.

Os adolescentes não sabem amar. Não aprenderam ainda que o amor é uma lenta construção, com um antes complicado e um complicado depois. Vivem a descomplicação do momento, bebendo em goles ruidosos cada porção de vida.

Os adolescentes não sabem amar. Crêem que o tempo pode esperar pelo amor e que a própria vida está envolvida no amor.

Os adolescentes não sabem amar. Ainda acreditam que o amor é possível e que é possível viver de amor.

Precisamos ensinar os adolescentes a amar. Precisamos ensiná-los a assassinar o amor.


Somente os adolescentes sabem amar. Encontram mais lucidez nas des-razões do amor do que nos arrazoados dos códigos.

Somente os adolescentes sabem amar. Estão dispostos a lutar contra a injustiça, com os abraços e os beijos do amor. Sabem que a dança, a música e a paixão são as sementes de um novo dia.

Somente os adolescentes sabem amar. Sabem que o amor caminha pelos interstícios e se escreve nas entrelinhas. O amor vale mais que a produção e que a tradição, o trabalho e o estudo são apenas acessórios do amor.

Somente os adolescentes sabem amar. Sabem que amar é perfumar o corpo e despentear os cabelos e andar descuidadamente, quase flutuar. Gingam o amor amorosamente e ocupam os seus corpos com o corpo do amor.

Somente os adolescentes sabem amar. Sorvem a alma amada em um beijo e sangram suas saudades infinitas.

Somente os adolescentes sabem amar. Amam as estrelas e todos os deuses e fazem viagens siderais e cumprem rituais religiosos pelos caminhos e mistérios do corpo amado.

Somente os adolescentes sabem amar. Sabem que o equilíbrio da sociedade e a consistência do eco-sistema dependem do seu amor único e particular.

Somente os adolescentes sabem amar. Acreditam que o amor não pode ser ensinado e que cada amor é um novo amor e que cada nova forma é a mesma forma de amor.

Somente os adolescentes sabem amar. Riem, falam e exibem o seu amor, sem exibí-lo, porque o amor já nasceu indiscreto.

Somente os adolescentes sabem amar. Amam nas ruas, nas calçadas, nos becos, nos ônibus, nas filas. Amam sentados, deitados e em pé. Caminham amantes os seus próprios caminhos e correm amando especialmente na contramão.

Precisamos aprender a amar com os adolescentes. Precisamos voltar a adolescer de amor.

4 comentários:

  1. Já que sou jovem, vou re-adolescer. :]
    Valeu, Marcos. Belo texto!

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  2. Recuperar a emoção e o tesão adolescente pela vida, pelo amor... precisamos sim.

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  3. Tenho visto que a paixão não tem idade... Qualquer um(a), em qualquer tempo da vida pode se descobrir voltando a adolescer de amor... Ficar horas ao telefone dizendo que está com saudade e que gosta muito de ouvir a voz do amado... um clássico entre os apaixonados...
    Seu texto é maravilhoso!!!! Instigante!!!! Apaixonante!!!!
    Bjosss!!!

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  4. Como sempre, aproximando (e quase tornando uma só coisa) saber e não-saber. Se o amor do adolescente que não sabe amar é o único amor verdadeiro, adolescer é desaprender a amar para amar de verdade. Lindo, Marcos. Muita saudade de vc por aqui.

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