terça-feira, 2 de novembro de 2010

O caminho da intensidade do desejo

“Felizes os puros de coração porque verão a Deus”. Mateus 5,8

Um coração puro não é um coração vazio de vícios, mas cheio de uma coisa só. Ser puro é não ser misturado, é desejar uma única coisa, ter uma única paixão, o Reino de Deus.

O caminho dos apaixonados é o caminho dos tão ocupados com o amado que não sobra tempo nem espaço para nada mais.

Ser corpo apaixonado é ver, ouvir, sentir, tocar e falar apaixonadamente. E pensar com o coração que, segundo Pascal, tem razões que a própria razão desconhece.

O caminho da pureza não é o caminho da economia de afetos ou da contenção dos desejos, mas o caminho da plenitude nas relações concretas.

Ter um coração puro é desejar intensamente o amor; ansiar plenamente a verdade; buscar intensamente a justiça e acariciar amorosamente a misericórdia.

Essa intensidade de paixão torna-se paixão intensa por Deus e por pessoas concretas. Corpo apaixonado por corpos, amando e sendo amado, tocando e sendo tocado, acariciando e sendo acariciado.

A fonte da fidelidade ao amado e à amada está na intensidade do amor e não na vigilância ascética. O amor à amada se estabelece como amor ao amor, multiplicando mil estratégias e caminhos de carinho e cumplicidade.

A ética que vai caminhando pelo caminho do desejo, mantém um coração pulsante e um corpo preparado para a inteireza da ação.

Procurar uma pureza de coração é estabelecer harmonia e integridade entre ser e parecer, sentir e pensar, querer e agir.

Os puros de coração são felizes porque verão a Deus. Deus se torna visível não na restrição, na proibição, no sorriso comedido, mas na abundância, na afirmação, na gargalhada incontida.

Caminhar pela justiça, pela verdade e pelo amor, em sua pureza completa, significa diminuir os espaços para a injustiça, para a mentira e para a indiferença seca.

Deixar o coração pulsar cheio de sangue, nos ritmos de uma vida que se esparrama gratuitamente, sem economizar sons e cores.

8 comentários:

  1. Estou aprendo a me refestelar no arco-íris da vida que Deus nos deu novamente. Estou engateando, tateando, pois o mundo me endureceu e perdeu as cores por um tempo. Bom ler essas palavras de alento.
    Abraço.

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  2. Marcos, é irmão, mais uma pérola. Belíssimo texto. O saboreei com o mesmo gosto da rapadura que esta em minha boca quando lendo este texto: Doce e ao mesmo tempo duro, porém, com uma sustância fundamental para todo nordestino como nós. Forte abraço com gosto de rapadura, pura de coração, pois Deus também gosta de dar "rapaduras" aos seus filhos.

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  3. A pureza das palavras nem sempre se manifesta de forma estridente, e sim em profundidade causadora de reflexão. Assim vejo seu texto, caro Mestre.
    Bendita a Fonte que te inspira!
    Abraços.

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  4. Belo post/reflexão Marcos!

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  5. Belíssima reflexão,como sempre... rsss.. Quero um coração puro... desejar intensamente o amor...ser corpo apaixonado... e ver Deus...

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  6. Eita Marcos... como é bom trocar a leitura árida (academicismos que tenho lido a contra-gosto) por textos com sabores, sons, cheiros e cores que descansam ou inquietam a alma. Que bom é ter a alma assim, aquietando-se ou inquietando-se, mas negando o sempre-mesmo quando o sempre-mesmo não se harmoniza com quem somos. Suas provocações trazem, entre tantas outras coisas, essa dinâmica e movimento. E eu me alegro com cada uma dessas nuances. Um grande ambraço. Saudades, Jeyson

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  7. Pr. quando leio seus textos ouço vc falando. Saudades! Quando passará aqui nessa terra quente?

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  8. Olâ você!
    A quanto tempo!
    Tenho sempre lido seus textos no seu blog, e, esse então, é de uma beleza inigualável!
    Pensar e descrever o amor da maneira como vocês fez ai nesse texto, é um chamativo para os que não conheceram uma experiência plena e única com o amor genuíno, em todas as instâncias nas quais ele se inscreve. Ao tomar conhecimento do seu texto, pensamos logo no contexto no qual estamos inseridos hoje: uma sociedade tão amarga e cheia de violência; fazendo uma averiguação de como está nossa experiência com as nossa forma de amar, se está correta, se tem nos alegrado, se tem nos levado as instâncias máximas do prazer de viver amor com Deus, como nosso Salvador e SENHOR, amor com uma pessoa específica: homem ou mulher; e com o próximo, com a família e com a Igreja...
    Marcos, que texto lindo! Tanta poesia, tanta ternura... Só poderiam mesmo vir de alguém como você, meu amigo querido.
    Pessoa que faz muito tempo que não vejo, porém que guardo nas minhas lembranças, com muito amor, por um tempo aureo vivido, juntamente com outros amigos e também com a sua doce e especial esposa Clayse.
    Abraço bem grande para você. Saudades muitas

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