sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A HOMOSSEXUALIDADE DE PLÍNIO E O ABORTO DE MARINA - I

Marcos Monteiro*

À medida que multiplico os contatos com as pessoas, diminuo o gosto pelas generalizações, conceitos, dogmas e definições. Para mim, o problema não se esgota no preconceito, a questão é o conceito e mais precisamente, o conceito de “conceito”.

Conceito é um modo de agrupar diferentes seres a partir de suas semelhanças. Algumas tribos não tem o conceito de árvore, desenvolvendo a capacidade de classificar vegetais em agrupamentos menores. As generalizações trazem vantagens e desvantagens. O conceito de cogumelo, por exemplo, abriga comestíveis e venenosos; ir além do conceito torna-se assim questão de sobrevivência.

Quando se trata de seres e comportamentos humanos a questão se complica muito mais. Tenho um amigo homossexual chamado Plínio e conheci uma jovem, Marina, cheia de alegria que em um dado momento de sua vida optou por fazer um aborto. Não são evidentemente o candidato e a candidata à presidência da República, mas a coincidência me faz refletir.

Pretendo votar em Plínio Arruda Sampaio pela sua trajetória de vida e pela juventude de seu partido: muitos jovens amigos meus ainda acreditam em construção socialista e os jovens não viveram o suficiente para se desencantarem. Por causa disso, renovam as nossas esperanças envelhecidas. Nada conheço da vida sexual do Plínio candidato à presidência da república, mas tenho certeza de que se ele fosse homossexual eu já teria sido informado. Ou seja, o conceito de homossexualidade transformaria um ser humano concreto em um outro menos digno, e com menos possibilidade de ser acreditado.

Na minha vivência pessoal, homossexualidade é conceito, generalização e dogma que tentam transformar pessoas bem conhecidas, homens e mulheres com nomes próprios, em cidadãos e cidadãs de segunda classe, sem direitos nem à terra nem ao céu. Quando convivo e converso com eles, quando paro para escutá-los, descubro a variedade de experiências humanas presente em quaisquer grupos de pessoas. Estudam, trabalham, pensam e amam, com direito a corpo, carícias e brilho no olhar.

Os homossexuais cristãos (e existem mais do que supõe a nossa vã eclesiologia), cada vez mais se sentem acolhidos por Deus, crêem e oram, ou rezam, embora muitos tenham sido vítimas de verdadeiras torturas psicológicas, que vão desde a discriminação ao esforço conversionista e até exorcista; na sua imensa maioria esforço danoso e inútil. Por caminhos tortuosos aprenderam a viver a sua vida amorosa de modo libertador, contra todo o esforço religioso e cultural de transformar o seu modo de amar em suspeito e pecaminoso.

Conheço pastores e pastoras homossexuais. São pastores porque cuidam de pessoas, companheiros e companheiras em suas trajetórias existenciais, responsáveis por encorajamento, crescimento pessoal e solidificação da experiência de fé de muita gente. O seu modo próprio de amar não diminui o seu caráter ou a sua generosidade. A coragem de assumir a sua própria vida, pelo contrário, enfrentando preconceito e até violência física e verbal, às vezes os tornam mais sensíveis e eficazes diante das surpresas da vida.

Tudo isso faz pensar e ainda tem a história do aborto de Marina, mas isso merece uma continuação nesse mesmo espaço, combinado com o CEPESC, na próxima sexta-feira.

Feira de Santana, 10 de setembro de 2010.

*Marcos Monteiro é assessor de pesquisa do CEPESC. Mestre em Filosofia, faz parte do colégio pastoral da Comunidade de Jesus em Feira de Santana, BA. Também é coordenador do Portal da Vida e faz parte das diretorias do Centro de Ética Social Martin Luther King Jr. e da Fraternidade Teológica Latino-Americana do Brasil

CEPESC – Centro de Pesquisa, Estudos e Serviço Cristão.

E-mail: cepesc@bol.com.br, Site: www.cepesc.com. Fone: (71) 3266-0055. Veja esse texto também no blog http://www.informativo-portal.blogspot.com/

2 comentários:

  1. Marcos, é por essas e outras que tanto o admiro. Faço minhas as suas palavras e sigo lamentando que tanta gente ainda sofra os preconceitos que os transforma nesses seres menos dignos. Infelizmente esses conceitos corrompidos que conspiram contra o bem-estar de nossos irmãos são aquilo a que poderíamos lamentavelmente nomear como nossa "herança cristã". Que Cristo não saiba disso !!!

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  2. Incrivelmente, e felizmente para mim, conceitos não são estáticos! Mas mutáveis em seus espaços, tempos, contextos. Graças a Deus podemos pensar e sermos críticos aos conceitos que não constroem, antes destroem e segregam. Muito bom texto Marcos, Plínio e Marina foram uma boa isca para a leitura. Continuemos a postar por um mundo menos feio e mais belo!!!

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