quinta-feira, 23 de setembro de 2010

ESPAÇO E TEMPO NO CRISTIANISMO ATUAL

A organização de protestantes e católicos possui peculiaridades que implicam em formas diferentes de relação com o espaço e com o tempo. A organização monocêntrica católica e a organização policêntrica protestante propõem diferentes espacializações e diferentes temporalizações que se desdobram em atitudes históricas diversas de relação com o mundo. No mundo católico, há uma clara predominância do espaço sobre o tempo, em configuração monolítica capaz de resistir ao processo histórico com bastante força. No mundo protestante, o tempo se sobrepõe ao espaço, não de forma uniforme, nem através de uma postura hierárquica contundente, mas o suficiente para permitir alianças mais evidentes com o desenrolar da história.

O espaço cristão, católico ou protestante, resiste ao tempo atual, denominado de pós-modernidade, mas de modos diferentes. Fortes parcelas da igreja protestante apresentam um híbrido de imersão pós-moderna com teologia fundamentalista, estranho e fascinante, ao mesmo tempo, enquanto possibilidades eclesiológicas e objeto de análise. Uma desterritorialização comandada pela ação corrosiva do tempo não parece provável no mundo católico, pelo menos a curto prazo. Ao mesmo tempo, as reterritorializações sucessivas do mundo protestante, são tanto comandadas pelos movimentos do tempo quanto resistentes aos mesmos.

Portanto, essa supremacia do tempo sobre o espaço no protestantismo não lhe encaminha imediatamente na direção das demandas conduzidas pelas novas configurações apresentadas pelo mundo de hoje. Um exemplo claro são as questões trazidas por uma bioética de um mundo tecnologicamente distante dos nossos referenciais cristãos. Enquanto os católicos organizam uma barricada de proteção sobre valores que precisam ser examinados mais acuradamente, os protestantes também resistem, com bem menos consistência, mas com alguns territórios a ensaiar formulações menos dogmáticas, permitidas pela sua herança.

De modo geral, o mundo cristão não parece estar preparado, por enquanto, para responder questões sobre pluralismo religioso, ecologia profunda, gênero, bioética, direito de minorias, carência evidenciada especialmente na sua abordagem sobre temas como aborto, sexualidade e diálogo inter-religioso, abertamente visível no tratamento quase histérico dispensado à possibilidade de medidas públicas de descriminalização do aborto, direito de homossexuais e valorização de religiões de matriz africana. Um ecumenismo quase impossível quando se trata de temáticas positivas, surge estranhamente quando se trata de condenar, proibir e demonizar dissidentes, hereges e infiéis. Nesses momentos, podemos perceber, católicos e protestantes, que há muito mais coisas que nos unem do que nos separam; infelizmente muito mais no tocante a práticas fundamentalistas.

Um comentário:

  1. Marcos,
    Ainda não tinha parado para fazer essa leitura do espaço-tempo.
    Muito interessante sua abordagem!
    Saudades!
    Agora te seguido!
    Abração!

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