segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Rito, o maravilhoso juvenil do Maravila F.C


Tradição é tradição e o time mítico do Maravila F. C, aquele que seu Madeira garante que foi o maior time de futebol de todos os tempos, gerou o atual e ainda imbatível time, onde Cocada reina soberano há mais de dez anos, e vai gerar futuros outros indestrutíveis times, porque na Vila Maravila ninguém acredita em fim do futebol. Pode mudar o país, o sistema, a Vila pode se tornar socialista e receber o “H” finalmente, pode cair a camada de ozônio e haver torrenciais inundações no planeta, mas o campinho da Vila permanecerá e o Maravila Futebol Clube continuará sendo o máximo.

E os futuros craques já começam a bater bola por lá, sendo o principal deles, um tal de Rito, em seus irreverentes quinze anos de idade e sua ousada convicção de que sabe jogar. Acompanhado de sempre por Cocada, o ídolo de mais de dez anos do time, o maior jogador do mundo, na opinião unânime de todos os moradores, esse comerciante da Vila que, sem formação ideológica, segundo Paranísio, é socialista de nascença, fez logo um contrato empresarial com o menino e seu pai, para protegê-lo da sanha dos grandes clubes. Paranísio assinou embaixo.

Rito cabeceia perfeitamente, chuta com as duas, lança e passa com perfeição, dribla como ninguém e controla a bola como quem leva a irmã pequena para a escola, com o cuidado e carinho dos maiores craques. Mas a arte maior de Rito é a imitação. Ele diverte a sua torcida, já grande e apaixonada, imitando o modo de jogar dos maiores jogadores de todos os tempos.

Do Vila Maravila de hoje, gosta de imitar Edivânio e o próprio Cocada, dois jogadores diferentes mas talentosos, tenta repetir o que os outros dizem sobre Roído e Biu do Efeito, do antigo e mítico time, cultuado por Seu Madeira e moradores mais antigos, mas leva o povo ao delírio quando resolve imitar ídolos da seleção brasileira, sendo os principais, Ronaldinho Gaúcho, Kaká e Robinho.

No início da partida, coloca uma dentadura postiça com os dentes protusos, e avisa, sob os aplausos da galera, “hoje eu sou Ritoninho Gaúcho” e sai carregando a bola com elegância, matando no peito e batendo faltas no estilo Ronaldinho, distribuindo banhos de cuias pela defesa adversária e dando passes perfeitos e milimétricos, olhando para o outro lado.

Em outra partida, ele diz sou Ritoká e faz arrancadas, chuta de fora da área, combate o adversário, toca a bola com rapidez, para diversão de todos e frustração do adversário. Por causa disso, ele promete ser ainda o primeiro, o segundo e o terceiro “melhor jogador do mundo” em uma eleição qualquer da Fifa.

O momento de delírio total da galera é quando ele, sem dizer nada, entra em campo correndo com o dedo na boca e todo mundo entende que hoje ele será Ritobinho e se prepara para as pedaladas, os dribles em micro-espaços e os gols de chutes colocados, sem muita potência.

Para aqueles que esperam que ele seja mero imitador, faz questão de superar os modelos e se Kaká arranca do meio de campo, faz arrancadas a partir de sua pequena área; se Ronaldinho mostra-se capaz de dar três banhos de cuia no mesmo jogador, ele deu cinco; e se Robinho gosta de pedalar, ele exagera nas pedaladas e tenta inventar dribles de Robinho que nem Robinho consegue fazer.

Mas o inventivo juvenil não pára de inventar. Quando não quer imitar ninguém sai jogando uma partida inteira (e se gabando disso, óbvio) tocando a bola com o corpo todo, menos com o pé. Mata a bola no peito, leva no joelho, passa para o ombro, para a cabeça, e completa toda a jogada-espetáculo fazendo um complicado gol de bunda. E a torcida cai em delírio alucinógeno.

Cocada ri e fica sério de repente, pensativo. Sabe que o menino tem asas nos pés e pretende que ele tenha rumo na cabeça. Ele que nunca aceitou jogar em time grande, por não aceitar escravidão ou concentração, sabe que logo, logo, esse menino estará nos gramados do mundo, espalhando o nome do Maravila por todo o planeta, para orgulho merecido de cada morador, mas sujeito às armadilhas desse complicado campo de futebol chamado vida.

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