sexta-feira, 16 de julho de 2010

Banana real com caldo de cana


A história da humanidade e a humanidade da história está sendo construída em um cotidiano cheio de gestos inesperados e de recantos desconhecidos em que a densidade da vida se apresenta de modo diverso. Se os grandes momentos podem ser considerados os nós, a realidade são muito mais os fios da teia de relacionamentos e significações que a tudo ultrapassa.

Na cidade de Jequié, no estado da Bahia, esse diferente brasil, todo próprio em seu modo de ser, em uma pequena barraca, você pode comer a melhor banana real com o melhor caldo de cana, pagando apenas um real. E isso é um grande investimento, porque você recebe ainda o melhor dos sorrisos e o mais digno dos atendimentos.

Na Barraca do Querido, Dona Maria Augusta e Seu Messias dividem com você, por apenas um real, histórias e lições de vida que nos desafiam a mudanças de atitudes em nossa própria maneira de ser.

Tive o privilégio de almoçar na casa deles e partilhar do almoço temperado com carinho pela matriarca de quase noventa anos de idade, Dona Francelina; tempero baiano dos bons em comida farta, o suficiente para dificultar nossa necessidade de emagrecer. E ouvi histórias, o suficiente para desafiar meu próprio estilo de viver e pensar a vida.

O fluxo de sensações, difícil de transformar em palavras, me encaminham para a questão do holograma, na concepção de Edgar Morin: em qualquer parte ou partícula, o todo se reflete em sua indefinível complexidade. Portanto, na barraca do Querido, enquanto holograma, podemos contemplar toda a história, em sua espacialidade e temporalidade.

O preço da banana real e do caldo de cana continua o mesmo desde 1994, o que me pareceu uma inesperada impossibilidade e perguntei como conseguem. Não é fácil, mas mesmo assim, a família foi se sustentando (hoje os filhos são todos formados) e deu para comprar casa e adquirir um carro não muito novo.

Sinais de muito esforço e muita criatividade, além de muito cansaço, para se manter qualidade e preço durante tanto tempo. Por isso, penso que o holograma do Querido seria muito mais desse outro possível mundo que todos queremos. Pois ainda existe gente como eles que acreditam que a vida e a qualidade de vida não passam pelo lucro irrefreado.

Se queremos mudar o planeta, talvez seja a hora de convidarmos todos os dirigentes da humanidade para virem para Jequié, Bahia, participar de um seminário sobre economia e planejamento, ministrado por Dona Augusta e Seu Messias. Ainda mais sabendo que quem é baiano é incapaz de imaginar um mundo melhor sem banana real e caldo de cana.

3 comentários:

  1. Rsrsrs. Nosso próximo ponto de parada para aprendermos mais sobre Dona Maria Augusta, sobre Seu Messias, sobre dignidade, sobre resistência, sobre o ser humano.

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  2. Atitude linda, texto lindo, família linda...

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  3. Na simplicidade das coisas encontramos a beleza da existência...que texto belo, sensível, conseguiu de fato traduzir em poucas palavras tudo o que representa a história dessa família encantadora!

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