Marcos Monteiro*
O calendário internacional
oferece um dia de comemoração para a mulher, geralmente oferecido às minorias.
Sociologicamente falando, a mulher ainda continua uma minoria (a maior minoria
do mundo) discriminada em vários lugares, sem direitos iguais em um bom número
de países. Mesmo quando conquista direitos legais sofre discriminações reais,
basta examinar as estatísticas de salários, por exemplo, e a distribuição de postos
de trabalhos e de tarefas domésticas.
Ao longo da história, teologias,
sociologias, psicologias, tentaram atribuir um papel secundário à mulher no
jogo da vida. Para Agostinho, a mulher só refletia a imagem de Deus através da
imagem do homem, espécie de espelho de segunda mão. Alguns sociólogos e
antropólogos negam período de matriarcado na história da humanidade, sempre
como argumento para defender uma espécie de desigualdade, no mínimo na
distribuição de poder doméstico ou religioso.
A discriminação também pode vir vestida
de homenagem, às vezes como elogio. O discurso de Demóstenes tentava descrever
a sociedade antiga perfeita, em que “temos as esposas para a procriação, as
concubinas para o prazer sexual e as hetairas para a diversão”. Mulher
polivalente, mas sempre em função do homem. O filósofo Imannuel Kant, pensando
esteticamente, afirma que o homem é belo, mas a mulher é sublime. Por isso, não
ficaria bem para a mulher o pensamento filosófico.
Igualdade, portanto, é sinfonia
inacabada, e foi a luta das próprias mulheres, rotuladas como feministas (tentativa
de transformar a palavra em pejorativo), acusadas de frustradas e incapazes do
amor, que iniciou uma conquista cada vez mais consistente.
Apesar dos homens, as mulheres
pensaram, agiram, buscaram lugar na humanidade, sem pedir autorização. Essa
busca de igualdade é também busca de si mesma. Simone de Beauvoir afirmava que
somente quando terminar a opressão de metade da humanidade pela outra metade é
que se poderá saber realmente o significado de ser mulher. A mulher teria sido
sempre pensada a partir do homem (seria o outro do homem), definida pelo
conjunto da civilização como uma espécie de híbrido entre o macho e o castrado.
Mas dia internacional é dia de
lembrar e esquecer. Lembrar de conquistas e esquecer sofrimentos. Dia de
recolher cada flor e cada palavra, transformando tudo em poesia. Homenagens,
discursos, presentes, abraços, beijos, banquetes, medalhas, tudo deve ser
recebido com muita alegria. Mas fica bem igualmente um certo franzir de cenho e
um leve sorriso de ironia. Pois nenhuma mulher é ingênua, sabe muito bem que
toda homenagem deveria vir acompanhada de uma dose bem maior de solidariedade.
Feira de Santana, 08 de março de
2012.
*Marcos Monteiro é assessor de
pesquisa do CEPESC. Mestre em Filosofia, faz parte do colégio pastoral da
Comunidade de Jesus em Feira de Santana, BA. Também faz parte das diretorias do
Centro de Ética Social Martin Luther King Jr. e da Fraternidade Teológica
Latino-Americana do Brasil
CEPESC – Centro de Pesquisa,
Estudos e Serviço Cristão. E-mail cepesc@bol.com.br, site www.cepesc.com.
Fone: (71) 3266-5526.
É isto ai... mais que flores e homenagens queremos solidariedade, compartilhamento e afetividade. Infelizmente a cultura judaico cristão contribuiu para que a mulher fosse excluída e oprimida mas corajosas fomos ganhando igualdade.
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