sexta-feira, 9 de março de 2012

UM DIA PARA A MULHER


Marcos Monteiro*

O calendário internacional oferece um dia de comemoração para a mulher, geralmente oferecido às minorias. Sociologicamente falando, a mulher ainda continua uma minoria (a maior minoria do mundo) discriminada em vários lugares, sem direitos iguais em um bom número de países. Mesmo quando conquista direitos legais sofre discriminações reais, basta examinar as estatísticas de salários, por exemplo, e a distribuição de postos de trabalhos e de tarefas domésticas.

Ao longo da história, teologias, sociologias, psicologias, tentaram atribuir um papel secundário à mulher no jogo da vida. Para Agostinho, a mulher só refletia a imagem de Deus através da imagem do homem, espécie de espelho de segunda mão. Alguns sociólogos e antropólogos negam período de matriarcado na história da humanidade, sempre como argumento para defender uma espécie de desigualdade, no mínimo na distribuição de poder doméstico ou religioso.

A discriminação também pode vir vestida de homenagem, às vezes como elogio. O discurso de Demóstenes tentava descrever a sociedade antiga perfeita, em que “temos as esposas para a procriação, as concubinas para o prazer sexual e as hetairas para a diversão”. Mulher polivalente, mas sempre em função do homem. O filósofo Imannuel Kant, pensando esteticamente, afirma que o homem é belo, mas a mulher é sublime. Por isso, não ficaria bem para a mulher o pensamento filosófico.

Igualdade, portanto, é sinfonia inacabada, e foi a luta das próprias mulheres, rotuladas como feministas (tentativa de transformar a palavra em pejorativo), acusadas de frustradas e incapazes do amor, que iniciou uma conquista cada vez mais consistente.

Apesar dos homens, as mulheres pensaram, agiram, buscaram lugar na humanidade, sem pedir autorização. Essa busca de igualdade é também busca de si mesma. Simone de Beauvoir afirmava que somente quando terminar a opressão de metade da humanidade pela outra metade é que se poderá saber realmente o significado de ser mulher. A mulher teria sido sempre pensada a partir do homem (seria o outro do homem), definida pelo conjunto da civilização como uma espécie de híbrido entre o macho e o castrado.

Mas dia internacional é dia de lembrar e esquecer. Lembrar de conquistas e esquecer sofrimentos. Dia de recolher cada flor e cada palavra, transformando tudo em poesia. Homenagens, discursos, presentes, abraços, beijos, banquetes, medalhas, tudo deve ser recebido com muita alegria. Mas fica bem igualmente um certo franzir de cenho e um leve sorriso de ironia. Pois nenhuma mulher é ingênua, sabe muito bem que toda homenagem deveria vir acompanhada de uma dose bem maior de solidariedade.

Feira de Santana, 08 de março de 2012.

*Marcos Monteiro é assessor de pesquisa do CEPESC. Mestre em Filosofia, faz parte do colégio pastoral da Comunidade de Jesus em Feira de Santana, BA. Também faz parte das diretorias do Centro de Ética Social Martin Luther King Jr. e da Fraternidade Teológica Latino-Americana do Brasil
CEPESC – Centro de Pesquisa, Estudos e Serviço Cristão. E-mail cepesc@bol.com.br, site www.cepesc.com.
Fone: (71) 3266-5526. 

Um comentário:

  1. É isto ai... mais que flores e homenagens queremos solidariedade, compartilhamento e afetividade. Infelizmente a cultura judaico cristão contribuiu para que a mulher fosse excluída e oprimida mas corajosas fomos ganhando igualdade.

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