quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O INCRÍVEL GOL DE JOÃO GIGANTE

João Gigante era o nome como era chamado João Garibaldi da Siqueira, um anão de no máximo metro e vinte de altura, com incrível habilidade no futebol. Era o reserva de luxo do Maravila F.C. fabuloso time de fabulosos jogadores, como o extraordinário Biu do Efeito e o inesquecível Roído. De luxo porque com sua incrível habilidade, criatividade e rapidez de raciocínio era capaz de decidir partidas complicadas. E reserva porque Aroeira sabia que um anão daqueles era caçado o tempo todo em campo, pois zagueiro nenhum seria maluco de deixar esse esboço de gente livre para criar, driblar e demonstrar sua genialidade. Zagueiro que se preze não gosta de ser desmoralizado, muito menos por um anão.

Aroeira, técnico tão genial quanto os mais geniais dos jogadores, só precisava de quinze minutos da inventividade de João Gigante, os quais ele usava religiosamente em cada partida, de acordo com o andamento da mesma. Quando escalado de início, sua função era destravar a retranca esperada do aflito adversário, claramente prevista na escalação. Inteligente, João Gigante fugia rapidamente para a grande área do oponente, esse espaço de refúgio onde os zagueiros economizavam sempre as botinadas. Em um desses inícios, diante de um Milicunha e sua maldade proverbial, tanto dançou, tanto driblou, tanto entortou corpo e bola que Milicunha, exasperado, deu-lhe uma rasteira tão visível e exagerada que juiz nenhum podia deixar de marcar. Mesmo desses que evitam apitar faltas máximas no início do jogo para não gerar confusão. Pênalti marcado. Pênalti cobrado por Biu do Efeito. Gol. Retranca destravada e João Gigante substituído para evitar retaliações.

De outra feita, em um jogo meio morno contra um Ipiranga nervoso e jogando tudo o que podia contra um dia de Maravila pouco inspirado, João Gigante entrou no meio do segundo tempo. Em um dado momento recebeu a bola e correu célere para a grande área, quando o Milicunha lhe barrou os passos, se posicionando ameaçador na sua frente. João Gigante ameaçou o drible para a direita e quando o Milicunha se preparou para levar perna com toda maldade para bater com violência bola e corpo, o imprevisível anão passou com bola e tudo por debaixo das pernas de Milicunha que escorregou bem escorregado e teve de ser substituído, todo escangalhado. Mais um gol de João Gigante, cujo único trabalho foi dar um tapinha na bola por sobre o atarantado goleiro, com o efeito suficiente para evitar qualquer surpresa. Nessa partida, Milicunha contundido, o técnico Aroeira deu de presente à torcida e ao jogador mais dez minutos de futebol de excepcional qualidade, de lances inesperados, dribles desconcertantes, passes perfeitos e lançamentos precisos.

Bem, fora de campo, João Gigante era ranzinza e carrancudo, sem muita habilidade nos relacionamentos. Mesmo assim, atraía algumas mulheres bonitas, virtude de mulher que quando deseja o amor ou ama o desejo transforma até anão em modelo. A questão era que o Gigante era exigente e queria para si uma mulher muito bonita e muito alta. Se isso era preconceito contra si mesmo, disfarçava inteligentemente argumentando que de anão com anã só podia sair ou Joãozinho ou Aninha. Não desejava o seu destino para filho ou filha que “destino de anão era botinada”.

Vera Pequena tinha um metro e noventa e seis de altura e era linda como atriz de cinema. Fanática por futebol e pelo Maravila F. C., foi sendo cativada por esse misterioso jogador que aparecia em cada partida como pequenino e surpreendente herói, capaz de mudar destino de partida e começou a desejar ter destino mudado. Quando aconteceu o encontro entre os dois, ela já estava totalmente apaixonada, irresistivelmente entregue. Ele, mais cauteloso, calculou altura, mediu beleza, imaginou futuro e então se apaixonou apaixonadamente para felicidade dos dois e da história do Maravila F. C.

Um dia, bem depois de casados, estranho casal formado, com filhos nascidos altos e belos, Vera Pequena, meio tímida e ruborizada, narrou o momento mágico em que a paixão a alcançou definitivamente. Já tinha uma grande simpatia no coração por esse grande jogador de pequeno porte e seus lances gigantescos. Mesmo o seu jeito ranzinza lhe emprestava certo charme, confessou. Mas houve um momento em que este lhe conquistou o coração e, como não podia deixar de ser, foi em um jogo de futebol. Maravila contra o Ipiranga, como sempre.

Nesse dia, o Maravila estava jogando muito, mas perdendo gols incríveis. O jogo estava zero a zero, faltavam quinze minutos para a partida terminar e Roído precisava ser substituído urgente. Todo o mundo sabia. Risco dele fazer gol contra. Saiu então Roído e entrou João Gigante. Mas tem dias que a bola resolve não entrar. Haja bola na trave, duas de João Gigante, e a partida se encaminha para o final e para o título do Ipiranga, que jogava pelo empate. Escanteio para o Maravila e Vera, com o coração apertado, observando tudo, viu quando o Gigante cochichou com o monumental Biuzão. E então aconteceu o emocionante e decisivo lance.

Quando a bola vai pingando dentro da tumultuada área, João Gigante escala os ombros de Biuzão e do alto do musculoso zagueiro cabeceia certeiro para o gol. O juiz confirma o tento e apita o final da partida. Mas aí começa a confusão. Estranho lance, estranho gol, consultam-se as regras, vasculham-se os manuais e não se encontra nenhuma proibição, o que desautoriza qualquer tipo de providência posterior. Até hoje, Seu Madeira não sabe dizer se há nas regras de futebol proibição desse tipo de lance. Mas, se houver, ele garante, foi por causa de João Gigante.

O talentoso anão jogou oficialmente somente mais algumas partidas, cansado de levar tanta pancada por tão pouco tempo de jogo. E foi jogar outro tipo de jogo com Vera Pequena. Ela confessa, sempre ruborizada, que ele continua inventivo, criativo e mágico, tanto na vida quanto na cama.

3 comentários:

  1. Faaaaaaaaaaaaala seu cabra!!!

    Rapaz, estou fã desse projeto de Romário viu!!! Que texto bacana cara! O que eu mais gosto no teu blog é exatamente essas várias visões de mundos que vc escreve. Vc não é daqueles palermas enjessados em escrever só sobre teologia... Vc escreve sobre a vida, a vida que se vive...

    Quando eu crescer quero ser igual a vc... (me refiro a barba...)

    hehehehehehe

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  2. Esta inventividade que faz parte da vida e do Maravila F. C me encanta!
    Esses textos me deixa com água na boca, desejando a 2ª parte do livro "Vila Maravila".
    bjs

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  3. Nenhuma pessoa me chamou aqui. Mas, passei lendo.E achei interessante e estou lhe convidando a visitar o meu blogue, e se possivel seguirmos juntos por eles. Estarei grato esperando por voce lá. Vou te seguir pelo tuiter.
    Abraços de verdade

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