terça-feira, 31 de agosto de 2010

Sobre os poços da nossa vida

Jo 4,13-14

“Afirmou-lhe Jesus: quem beber desta água tornará a ter sede; aquele, porém, que beber da água que eu lhe der, nunca mais terá sede, para sempre; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna”.



Às margens de um poço sagrado, o encontro inusitado entre um desconhecido e uma desconhecida e uma conversa que vai se conversando por caminhos diversos, assunto de águas e de poços, proseado de meio dia.

O homem é Jesus de Nazaré, esse artesão com ares de profeta, que carrega o preconceito de ser de Nazaré, aldeia que o provérbio garantia não produzir nada de bom. A mulher não tem nome, só rótulo, samaritana, campeã de preconceitos, mulher de muitos amores e de nenhuma certeza sobre o amor.

Na geografia da discriminação também há hierarquias, e entre os piores lugares existem os piores ainda. Se Nazaré não presta, Samaria merece o fogo do inferno. Mas, nos lugares infernais ainda se pode conversar.

Ele, o filho de Deus que quer aprender a ser homem, pede água; ela, mulher que se sabe mulher e quer aprender de Deus, estranha, pergunta, provoca, até desejar, esse desejo misterioso de água misteriosa.

O ensino de Jesus é de que melhor do que procurar poços é procurar ser poço, pois o melhor poço é o poço que somos e a melhor água é a água que transborda de dentro de nós mesmos.

Deseja a justiça? não procure a justiça por aí, seja justiça que não cabe em si e que se esparrama de dentro pra fora. Não procure pelas fontes, seja fonte de misericórdia, extravagante e extravasante, umedecedora do barro que modela os homens. Seja poço divino de um amor que borbulha até efervescer, amor que não sabe não amar.

Procurar por poços é esforço que fracassa, procurar ser poço é um não esforço: permissão constante e prazerosa de que a água viva de Jesus, essa enigmática Brisa de Deus, brote das profundas grotas de nossa existência.

3 comentários:

  1. Amém!!! Terça sem Bliagindo, semana sem graça!!! A missa, o culto, ... que me desculpem... rsssss

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  2. Aêêêêê, adorei o Bibliagindo de hoje! Já divulguei no Twitter. Avante e vamos...

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  3. Que consigamos mesmo a graça de matar sede, num mundo cada vez mais seco de solidariedade.

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