sexta-feira, 23 de julho de 2010

A violência do campo no campo da violência


Marcos Monteiro*


Macarrão não deve fazer parte da dieta de um atleta e todo o mundo sabe que bola é a coisa mais perigosa para um goleiro, piadinha infame para infames tempos em que vivemos.


Bola e macarrão são substantivos comuns transformados em próprios e Bruno, Bola e Macarrão são substantivos próprios tornados comuns no noticiário de todo dia, associados a drogas, violência e crime, coisas do futebol. Pelo menos do futebol de hoje em dia, em que violência é coisa de torcida, de técnico, de jogador, até no seu cotidiano.


Os meios de comunicação colocam em evidência assassinatos efetuados por jogadores famosos, profissionais liberais e empresários. De comum a todos os crimes, a tentativa de escamotear evidências e a certeza da impunidade.


Se essa é a vitrine, o estoque de violência do país é imenso e complexo, tanto quanto o crime organizado e globalizado que estabelece no mundo todo um sistema político-econômico paralelo que poderia ser chamado de “estado de mal-estar”.


A prisão e condenação de famosos e de cidadãos de classe média alta, considerados inatingíveis pela sociedade em geral e por eles mesmos, poderiam ser consideradas exemplares e acenderiam a esperança de que o país está mudando.


Dentro dos múltiplos fundamentos e setores da violência, por outro lado, o sentimento de perplexidade e impotência continua aumentando, pela simples constatação que a violência está presente, por exemplo, na religião e no futebol.


Economicamente, o futebol se consolida como uma espécie de quarto setor, em permanente ascensão, envolvendo uma imensa quantidade de dinheiro. Federações, clubes, empresários, atletas, meios de comunicação, constituem um imbricado sistema em que fortunas e misérias são rapidamente produzidas e acesso e decesso passam a ser não somente a situação de clubes em campeonatos, mas a mobilidade social de pessoas envolvidas.


Nesse cenário assim estabelecido, gestões suspeitas, manobras grotescas e competição desenfreada, transformam a violência em estrutura. Então, a lei do mais forte e a paixão de todos nós ronda perigosamente esse ambiente que seria apenas do nosso necessário entretenimento.

Pois todos nós precisamos de comida e de alegria, ou de macarrão e de bola, na infame volta da infame piada inicial.


Garanhuns, 23 de julho de 2010.


*Marcos Monteiro é assessor de pesquisa do CEPESC. Mestre em Filosofia, faz parte do colégio pastoral da Comunidade de Jesus em Feira de Santana, BA. Também é coordenador do Portal da Vida e faz parte das diretorias do Centro de Ética Social Martin Luther King e da Fraternidade Teológica Latino-Americana do Brasil. CEPESC – Centro de Pesquisa, Estudos e Serviço Cristão. E-mail cepesc@bol.com.br. MARCOS MONTEIRO – www.madoniram.blogspot.com

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