Artur peregrina há muito tempo.
Saiu diretamente das páginas da Bíblia para caminhar pelos grotões do Nordeste
e atraiu um grupo de peregrinas e peregrinos ao redor de si.
Artur é índio disfarçado de
europeu e tem a sabedoria bíblica do indígena, que todo o mundo sabe foi quem
escreveu o livro santo e que Jesus era índio. Nas mitologias ameríndias
aparecem brancos enviados pelos deuses para peregrinar com a gente. Artur é
índio branco que conhece os caminhos.
Talvez seja mais preciso dizer
que os caminhos conhecem Artur e se assanham para acompanhar suas passadas.
Quando Artur passa, a natureza se oferece sem pudor e as árvores dançam. As
frutas caem direto no seu farnel e as abelhas se afastam com delicadeza para
que o mel seja colhido.
Cacique tupiniquim que não manda
em ninguém, mas que as coisas sempre acontecem do seu jeito. Todo dia, o grupo
de Peregrinas e Peregrinos do Nordeste escolhe um novo guia, mas cada uma só
consegue guiar apoiada no seu bordão que já percorreu todos os caminhos
possíveis.
Todos caminhamos sob a liderança
invisível de Artur Peregrino. Sua palavra mansa se torna força de proclamação
na ressonância dos missionários de todos os tempos e lugares, tipo de cantoria
que convida povo antigo para novo tempo:
Quem roubou
não roube mais,
Quem matou não
mate mais.
Proclamação de um evangelho que
nunca olha pra traz, mas indignação profética que surge quando a opressão deixa
de ser disfarçada e querem barrar os caminhos. Nesses momentos, Artur se torna
mais bíblico do que nunca e a coragem de quem caminha com Javé enfrenta o poder
de quem só entende de sinalização (“pare”, “siga”), como se peregrinação
entendesse de placas.
Os pés de Artur sofreram
cirurgias capazes de imobilizar qualquer um, mas a peregrinação tem de
continuar e Javé lhe emprestou um pouco do barro criador e lhe mostrou seus
segredos mais secretos. E no caminho, o peregrino Artur faz aquelas aplicações
de argila que todos os santos, profetas, índias e bruxas sempre conheceram, e
caminha.
Quando não está caminhando, Artur
Peregrino está dando aula na Universidade Católica de Pernambuco e eu gostaria
de assistir para ver se ele consegue ficar parado. Qualquer dia desses, ele
rompe os limites das paredes e sai assim um professor meio aristotélico, meio
peripatético, meio peregrino.
Porque eu sei um segredo desses
que todo mundo sabe. Artur nunca vai morrer porque nunca aprendeu, só sabe
viver e peregrinar. Um dia ele vai organizar uma peregrinação pela Via Láctea e
claro que um bocado de gente boa vai participar. Algumas pessoas bem famosas
que eu sei já fizeram inscrição: A Virgem Maria, o Pai, o Filho e o Espírito
Santo.
Os peregrinos têm muito a dizer do que vêem, do que trazem dentro de si, o compartilhar a estrada e a sabedoria com aqueles que não têm coragem de partir.
ResponderExcluirSeu blog é encantador, estive a ver e ler algumas coisas, não li muito, porque espero voltar mais algumas vezes,mas deu para ver a sua dedicação e sempre a prendemos ao ler blogs como o seu. Se me der a honra de visitar e ler algumas coisas no Peregrino e servo ficarei radiante, pode deixar um comentário, e se desejar fazer parte de meus amigos virtuais, esteja à vontade, irei retribuir.Mas por favor não se sinta coagido, siga apenas se desejar. Abraço.
ResponderExcluirAntónio.