prt3 |
*Marcos Monteiro
O título acima serve tanto aos
atos processuais julgados, como ao tribunal que julga. O julgamento do supremo
é o acontecimento processual que ocorre publicamente e o julgamento do supremo
é o juízo que a opinião pública exerce sobre o órgão máximo de nosso sistema
judiciário. E o supremo está sendo julgado todos os dias.
A superexposição que a mídia
organizou sobre o julgamento do “mensalão” tornou visível a complexidade do
nosso sistema judiciário, dentro do complexo jogo político que se joga todos os
dias. As câmeras têm o efeito amplificador de disponibilizar discursos e
imagens para todos os lados e alimentar conversas pessoais e redes virtuais. O
resultado de tudo isso é difícil de prever, mas podemos ponderar sobre alguns
pontos no momento, especialmente a relação entre justiça e corrupção.
A corrupção é coisa presente em
todos os lugares do mundo e no Brasil é histórica e endêmica, atestada pelas
narrativas sobre a invasão e colonização europeia. A troca de bugigangas por
riquezas naturais que marcou o início do processo de invasão e gradativo
genocídio das populações nativas ainda parece ser o emblema das relações de
poder. Oferecer ilusões como mercadorias necessárias é típico do jogo de
sedução do Capital, modo novo da antiga colonização e exploração.
Desse modo, exercer justiça nos
moldes clássicos é esperar demais da sociedade brasileira. Mesmo a questão
chamada justiça, definida como a mais completa das virtudes, espécie de árbitro
e mentor de todas as demais, não tem solução definitiva. Calcular a medida
certa, dentro daquele ideal grego, ou o ponto do meio entre perdas e ganhos,
não cabe numa equação de matemática. A existência, em sua contingência
concreta, ultrapassa toda arquitetura algébrica.
Então, o jeito é assistir o jogo
e tentar entender as jogadas de cada lugar. Tentar entender por exemplo porque
o chamado “mensalão” tem sido constantemente chamado de “o maior escândalo de
corrupção da história do país”. Em um certo sentido, isso tornou-se verdade, a
partir do momento em que vários setores do poder se juntaram para divulgar
indignação em cima de indignação. Indignação que não aconteceu diante de tantos
outros esquemas de corrupção como a chamada “privataria tucana”, por exemplo. Há um certo
sabor de justiça quando o supremo se ocupa com esse caso específico, mas
gostaríamos de saber porque nunca vimos o mesmo tribunal se ocupar com outros.
Dessa maneira, dificilmente
podemos acreditar na neutralidade e racionalidade da justiça. Aliás,
neutralidade e racionalidade não acontece em lugar nenhum de nossa vida. Somos
seres políticos, temos opinião e tomamos partido, e somos seres apaixonados.
Admitir isso, é o primeiro passo para emitirmos qualquer juízo. Discursamos de
um lugar interessado e o fazemos como oradores apaixonados. Isso explica tanto
a diversidade de opiniões do supremo, quanto a nossa diversidade cotidiana de
opinião.
Todos desejamos que a justiça
continue julgando a corrupção, toda a corrupção. Mas desejamos que a corrupção
da própria justiça também seja julgada. Não há corte institucional acima do
supremo, portanto não há poder institucional para julgá-lo. Mas, se numa
sociedade democrática, todo o poder emana do povo, precisamos tanto de
democracia mais efetiva quanto de povo mais bem organizado. Essas duas coisas
sempre andarão juntas.
Feira de Santana, 20 de setembro
de 2013.
*Marcos Monteiro é assessor de
pesquisa do CEPESC. Mestre em Filosofia, faz parte do colégio pastoral da
Comunidade de Jesus em Feira de Santana, BA e do grupo de pastores da Primeira
Igreja Batista em Bultrins, Olinda, PE. Também faz parte da diretoria da Aliança
de Batistas do Brasil e é membro da Fraternidade Teológica Latino-Americana do
Brasil.
CEPESC – Centro de Pesquisa,
Estudos e Serviço Cristão. E-mail cepesc@bol.com.br, site www.cepesc.com.
Fone: (71) 3266-0055.
Nenhum comentário:
Postar um comentário