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Um baiano sozinho não diz a
palavra pre-gui-ça: precisa-se de três. Como foi necessário três baianos para
criar a piada. Um baiano de Pernambuco, uma baiana de Minas Gerais e um baiano
de São Paulo, porque ser baiano não é destino, mas privilégio adquirido por
acaso ou por esforço próprio.
A tarefa impossível de encontrar
a estratégia para se fazer o maior esforço possível de se fazer o mínimo de
esforço possível é compreender que a vida deve ser vivida em fruição. Baiano e
baiana assumem qualquer tarefa, de qualquer peso ou duração, para garantir festa e dança de sexta a domingo.
Todo baiano pode torcer por
qualquer time: Bahia ou Vitória, pra que mais? Alguns exagerados acrescentam um
time do Rio ou de São Paulo, ou de sua cidade natal, Alcobaca ou Uauá, cidade
sem consoantes, por exemplo. Ainda aprendiz, continuo torcendo pelo Santa Cruz
de Recife. Um time de torcida muito fiel que não disputa as séries A, B ou C do
campeonato brasileiro. Meu time já deixou a fase do ABC e agora está na série
D. Está progredindo.
Tudo de que se precisa se
encontra na Bahia. Na cidade de Feira de Santana, onde moro, temos a capoeira
histórica, o reggae universal e um observatório astronômico. Tão astronômico
quanto o descaso do governo local para o sistema de transporte em geral. Em
minha cidade, quando estamos com pressa, não tomamos ônibus nem táxi, vamos a
pé. De vez em quando, algum amigo bem intencionado nos aborda e pergunta:
– Quer uma carona?
E temos de responder, constrangidos:
– Não posso não. Estou apressado.
Mas torcer pelo Bahia, por
exemplo, é torcer por time que merece filme e bilheteria lotada. Primeiro
campeão brasileiro, campeão de torcida no estádio, o aficcionado paga qualquer
ingresso mesmo para ver o time perder. O torcedor do Bahia é um religioso fiel:
paga promessa a qualquer santo ou orixá para o Bahia vencer e suas promessas
sempre envolvem motivo futebolístico. Vestir a camisa do Bahia por dois anos,
sem tirar nem para lavar nem para fazer sexo, por exemplo. Se, por causa disso,
ficar dois anos sem sexo, sem problemas, promessa é promessa. Mas sempre existe
por aí uma religiosa torcedora fiel capaz de ter feito a promessa de transar
com alguém com a mesma camisa do Bahia. Na Bahia tudo pode acontecer.
Torcer pelo Vitória é adquirir o
direito de gozar da cara do torcedor do Bahia. Da outra metade da população,
portanto. O Vitória não tem nem um título nacional tão importante, mas tem
vários estaduais, que é o que vale. Mas tem também o maior número de vice-campeonatos
estaduais registrados. Fizeram uma pesquisa, garante o torcedor do Bahia, sobre
o time no mundo que tem mais vice-campeonatos e o Vitória foi o vice. Epa? Essa
piada não era do Náutico do Recife? Mas o baiano se apropria.
Quando eu era criança ouvia um
programa de rádio, programa de humor, que dizia que toda figura proeminente do
Brasil era baiano, até o Maestro Carioca. “Dos chapadões da Paraíba até os
lençóis petrolíferos de Tucano, todo mundo sabe que até o Maestro Carioca era
baiano”. Eu nasci em Pernambuco, mas me encontro aprendiz de baiano, no gosto
pelo acarajé, no excesso de pimenta, na festa a qualquer momento ou a qualquer
pretexto, na brincadeira a qualquer hora ou até fora de hora, na conversa sem
necessidade de assunto. Não é a toa que uma amiga minha, baiana, esculpiu a
frase: “Conversar é importante, mas conversar besteira é fundamental”. Também
não é a toa que o baiano ou a baiana não para de conversar e de brincar
conversando. De duas frases que o baiano diz, três são pulha e o resto tem
duplo sentido.
Não nasci na Bahia, nem planejei
ser baiano, mas me sinto em casa na Bahia. Bahia é minha pátria e gosto muito
de ser baiano. Só preciso aprender por quem torcer: Bahia ou Vitória.
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