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Na
ligeira pesquisa efetuada na Vila Maravila sobre quem deveria ser o novo
técnico da seleção brasileira de futebol, Luiz Felipe Scolari ocupou um honroso
segundo lugar com a considerada excelente percentagem de cinco por cento.
Nenhum outro dos chamados grandes técnicos receberam qualquer menção; nem mesmo
o Parreira que o pessoal da Vila não perdoa por ter ganho a Copa de 94 vencendo
a hospitalizada seleção da Itália por zero a zero. O campeão absoluto foi naturalmente
o técnico Poeira, treinador do Maravila F. C., pentacampeão da liga de futebol
de subúrbio da cidade.
Procurando descobrir a razão de tanto sucesso, encontrei
coisas surpreendentes. Primeiro que o
glorioso Maravila F. C. amargava um longo e desacreditado período de fracassos,
antes de o Poeira assumir a equipe, e que o mesmo antes nunca havia sido
técnico e que ficara cotado para o cargo por ser o melhor jogador de dominó que
a Vila já conhecera. Portanto, a ausência de requisitos seria, para os moradores
da Vila, o seu maior requisito para o exercício da profissão.
Mas como o matreiro jogador de dominó conseguira
restaurar a credibilidade do ex-glorioso time? Ele garante que foi através de
muito estudo, muita pesquisa e principalmente de muita psicologia. Mais do que
táticas e regras, estudou a vida de grandes jogadores e grandes times do
passado e do presente, prestando atenção aos pequenos detalhes de onde, segundo
afirma, vêm as grandes soluções.
Descobrindo que os maiores jogadores não gostavam de
treinar, aboliu os treinos físicos, táticos e técnicos e multiplicou as peladas
criativas e os campeonatos de diversas coisas.
Toda noite, há multiplicidade de peladas abertas na Vila, onde os
jogadores do time disputam com outros candidatos a jogadores, criativas
variações. São peladas de futevôlei, futetênis, basquetefute e até de futeágua
que, diferente do pólo aquático, se joga com os pés e haja fôlego e malabarismo
para se conseguir nadar e chutar ao mesmo tempo. Há campeonatos de embaixada,
cabeçada, cruzamento, falta, pênalti, gol olímpico, sem-pulo, bicicleta. Há
divertidas peladas só de calcanhar (que ele instituiu em homenagem a Sócrates),
outras só de efeito (homenagem ao lendário Biu do Efeito) e os interessantes
campeonatos de futebol morro acima e morro abaixo, em um declive, que é para
melhorar o condicionamento físico.
Como todo mundo pode participar das peladas e dos
campeonatos, estão sempre surgindo novos jogadores que ele vai escalando na medida
da necessidade. Para descobrir a posição do jogador, ele aplica os testes psicológicos
de sua autoria, cujos princípios básicos compartilha: goleiro tem de ser alto e
calmo, zagueiro tem de ser sisudo, meio de campo tem de ser equilibrado e atacante
tem de ser falastrão, polêmico, problemático e tem de gostar de aparecer. Ele
desconversa, mas o pessoal garante que ele já telefonou duas vezes para
Romário, convidando-o para compor o ataque do Maravila F. C.
(Esse texto se encontra no livro “Vila
Maravila: um lugar diferente e cheio de graça”. O livro pode ser adquirido em
contato com o autor ou na Livraria Nobel, Av. Maria Quitéria, 2013, Feira de
Santana – BA. Da mesma maneira você pode encontrar o segundo volume: “Vila
Maravila: gols de esperança no campo da vida”)
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