gauchaopina |
Cronicar ou não cronicar torna-se
a questão de quem ousa se oferecer como texto para um reduzido mas exigente
público leitor.
Precisa-se da idéia e às vezes a
idéia vem, simplesmente, sem pedir licença e espalha-se ela mesma como
organização lógica de palavras, frase por frase, parágrafo por parágrafo,
atrevidamente, dispensando totalmente o autor.
Às vezes, simplesmente a idéia
não vem.
Então, é preciso usar mão do
repetido recurso de se escrever sobre o não escrever, usar a falta de assunto
como o próprio assunto e ousar a metacrônica, ou a metanãocrônica, a crônica
sobre a crônica falta de crônica.
Inspirar-se é encher a imaginação
das idéias que estão no ar, ou talvez se encher do ar das idéias. Não se inspirar
é trocar a inspiração pela suspiração, encher o pulmão nervosamente do poluído
e concreto ar cotidiano. Ousa-se a metacrônica (ou a metanãocrônica) com um
suspiro de resignação que espera pelo suspiro de alívio do final da crônica.
Porque o final é o problema maior
de toda crônica e finalizar uma metacrônica talvez seja o maior desafio do
excessivamente atrevido metanãocronista.
Claro que a metacrônica tem os
conhecidos desafios do estilo, tonalidade, conotação, precisão da crônica. Como
a própria crônica, a metacrônica pode ser ou irônica, ou lírica, ou lógica, ou
divertida, ou tudo isso. Mas, como a crônica, a metacrônica (metanãocrônica?)
precisa de um convincente final.
O problema do final é tão óbvio
que o cronista tem vergonha de explicar. O final não pode vir no começo, nem no
meio, mas apenas no fim. Mas como discernir? Estamos no início ou no meio de
nossa atrevida metacrônica?
Também o final não pode vir
depois do fim. Claro? Nenhuma crônica, ou metacrônica, ou metanãocrônica pode
ser um incessante recomeçar (a não ser como ousadia estilística ou como
transgressão intencionada).
O objetivo da crônica é descrever
do modo mais breve possível a presença da idéia. A metanãocrônica precisa se
alongar o mais possível sobre a ausência. Mas ambas se encontram diante do
desafio da precisão, o que nos remete mais uma vez ao final.
Finalizar ou não finalizar torna-se agora o último e
urgente desafio de quem se arrogou desde o início a cronicar sobre o não
cronicar. Poderia encontrar um clímax para a nossa ousada metanãocrônica, ou um
anticlímax. Ou um final surpreendente ou a surpresa do não-final. De todo o
modo, acabamos por aqui mesmo, em uma espécie de metafinal, ou um metanãofinal
para uma metanãocrônica.
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